Nós
temos um núcleo interior, um centro único, a que sempre aqui chamo coração. Foi
assim que Jesus me ensinou. Não há, portanto, em nós, conforme tantas vezes
ouvimos dizer e dizemos, porventura fervorosamente convictos, dois núcleos,
duas forças, dois poderes separados, muito menos antagónicos - cabeça e coração, onde estejam sediados,
respectivamente, a razão e o sentimento. E a esta misteriosa Fonte única, no
centro de nós, tem dado o Mestre aqui uma importância singular. Ora ouça-se:
Quando chegarmos ao Coração, encontraremos a Paz.
Como tudo em Deus e na Sua Obra, também o Coração é um Mistério. Tão
grande, que lhe devo ter chamado já, talvez, dezenas de nomes. E cada nome
designa uma cor, um som, um perfume, um sabor, uma sensação enfim, abrindo uma
paisagem inteira. É por isso que eu não consigo definir Coração. É por isso que
eu não consigo definir nenhum dos Mistérios a que até hoje fui conduzido. É por
isso que é uma horrorosa traição ao Amor do nosso Deus tentarmos reduzir os
Seus Mistérios a definições, a proposições doutrinárias, a dogmas.
Nem as feições físicas de Jesus eu consigo definir ou sequer descrever.
Menos ainda, talvez, as de Maria. Os Olhos d’Eles são Mistério, os Lábios
d’Eles são Mistério… E até os cabelos d’Eles, no seu ondear, nas formas
caprichosas que assumem, no seu colorido, na sua fofidão, são Mistério que não
consigo abarcar nunca e portanto nem um só cabelo eu consigo definir. Definir é
esterilizar, encaixotar, arrumar. E nada no Mistério fica arrumado quando chegamos
ao seu conhecimento; antes continua sempre desabrochado. Nunca os cabelos de
Maria os encontrei no mesmo lugar, muito menos imobilizados com laca na mesma
onda, como nós fazemos, às vezes. Nunca o nariz de Jesus deixou de me atrair os
lábios, num beijo em que vai um pedido meu para que respire em mim e deste modo
me inunde com o Seu Espírito…
Nunca nada neste caminho que estou seguindo deixa de seduzir. E
recordemos que a região que agora percorro é a da Carne. Continua seduzindo-me,
por exemplo, todo o fenómeno da Sexualidade. Dizem que no Céu acaba o sexo, que
tudo fica assexuado! Que horror! O que eu sei é que no Céu tudo, e portanto
também o sexo, desabrocha e adquire capacidades inimagináveis!
Ora esta vitalidade de todo o Mistério, que lhe permite seduzir sempre,
tem que ter uma Fonte que nunca se esgote. É a essa Fonte que venho chamando
Coração. Nele somos Paz desabrochando. (Dl 28, 30/8/04)
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