Enquanto Jesus viveu a Sua vida terrena nunca os Seus contemporâneos,
muito menos os Seus conterrâneos O consideraram um homem perfeito. Nem os Seus próprios
apóstolos viram nele a perfeição. Pelo contrário, não raras vezes Lhe foram
apontadas atitudes insensatas e mesmo pouco recomendáveis. E foi este homem,
carregado com as mesmas deficiências que todos nós, que nos deixou este apelo:
Sede perfeitos! Para Ele, portanto, não só é possível, mas necessária a perfeição,
obviamente não depois da morte, mas neste mundo ainda. Ouçamo-Lo na mensagem
seguinte:
Ora Jesus pede-nos que sejamos perfeitos. Mas todos sabemos que não era
num trambolho daqueles que Ele estava pensando ao fazer-nos aquele pedido. Ele
próprio foi tudo menos um homem perfeito segundo os conceitos da nossa moral e
da nossa estética. Vede-O no templo chicoteando vendilhões. Vede-O comendo com
marginais e prostitutas. Vede-O vociferando contra os fariseus. E vede-O
reduzido a um verme pisado até à morte no último dia da Sua vida.
O que é então ser perfeito? Há-de ser certamente só amar como Ele amou.
E para amar assim é preciso incarnar como Ele incarnou. Assumir que somos
defeituosos nós e os outros todos e perdoar-nos mutuamente setenta vezes sete,
porque até ao fim da vida haveremos de conservar toda a nossa deficiência. É
esta capacidade de nos amarmos a nós e a todos os outros tal como estamos que
nos transforma em Deus incarnado no nosso tempo. A perfeição está só em amar
assim.
…
Enquanto a nossa Carne não ressuscitar ou não for repentinamente
transfigurada, seremos sempre, nós os amigos de Jesus, pessoas normais como o
nosso Mestre. E se e quando passarmos a dar nas vistas por qualquer Dom que num
determinado momento Deus activou em nós, nunca o nosso comportamento de pessoas
normais se vai alterar, como Jesus não alterou o Seu jeito de viver e de agir
nos últimos três anos em que se tornou célebre. Só a sua Força Interior O
distinguia.
Só por esta mesma Força Interior os Seus discípulos se distinguirão das
outras pessoas. Serão publicamente aquilo que são privadamente. Nunca passarão
a usar uniforme nem a assumir poses estudadas para falar para a televisão.
Nunca aceitarão ser proclamados reis de nada nem pertencer a uma qualquer elite
social. Nem sequer passarão a “optar preferencialmente pelos pobres”, porque
estarão já a assumir-se como uma elite e a dividir os outros em preferidos e
não preferidos; antes conviverão com todos indiscriminadamente, sabendo que
todos sem excepção são pobres e deficientes e só se afastarão daqueles que
expressamente os rejeitarem, sacudindo à saída o pó das suas sandálias. Mesmo
assim, não deixarão de amar ninguém. Como o seu Mestre fez.
…
Dentre as coisas mais vulgares da vida realçam-se aquelas que a Moral
diz serem imperfeições, faltas, pecados. Está a nossa vida cheia de pecados
veniais e mortais, segundo a Moral estabelecida na sociedade e abençoada pelas
igrejas.
Ora Jesus veio tirar o Pecado do mundo. Não porque o Mal passe a ser
Bem, mas porque, se O aceitarmos na nossa Carne, deixamos de estar sujeitos às
leis da Moral ou a quaisquer outras, e tudo faremos a partir da paixão que
passou a absorver a nossa vida. Eu passo então apenas a não suportar ferir o
meu Apaixonado. Nada me estará proibido; doravante eu faço ou evito as coisas
porque amo. Deixo então de ter pecados; só tenho deficiências, que cada vez
vejo mais profundas, mas que em vez de ferirem o meu Apaixonado, mais O
enternecem.
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