Todos nós, ao menos em breves e raros momentos, conhecemos já o puro
encanto. Mas se alguém em absoluto o desconhecer e nos perguntar o que é,
ficaremos certamente sem palavras. Nestes Diálogos, no entanto, nunca Jesus Se
cansa de ir connosco à procura da natureza e da origem de todas as coisas; Ele
não quer que nada nos esteja vedado, muito menos proibido. Vede-o, por exemplo,
na mensagem seguinte:
De onde vem o Encanto? Não sabemos. Ele não está seguramente na casca das
coisas, senão todos os que têm olhos se encantariam com as mesmas coisas. Mas
nem todas as pessoas se encantam com as mesmas coisas e há pessoas que se
encantam com coisas que nós detestamos. Parece, assim, óbvio que o Encanto se
capta não com os olhos da cara, mas com uns outros olhos quaisquer, que vêem
para lá daquilo que está à vista de todos.
O Encanto é, pois, a nossa especialíssima capacidade de surpreender. Ele
é o perfume da nossa Alma revelando-se. Ele é a expressão da nossa essência
mais pura. Por isso relacionamos sempre o Encanto com a Inocência – a nossa
Alma é Inocência pura. Por isso ela se revela em repentinos clarões, aqui e
ali, por entre o estrondo da nossa Babel e a tensão constante em que nela vivemos.
É o nosso Pecado que não permite sermos Encanto puro e permanente uns para os
outros. De facto, o nosso Projecto rebelde e a sua execução absorve-nos todo o
tempo e todas as energias num activismo febril inteiramente absurdo. A fazer
arremedos mortos do Encanto vivo que se esconde dentro de nós e que transparece
de dentro dos outros, a espaços, como instantâneos raios de Luz. Ah, se não nos
tivéssemos lançado nesta Empreitada assassina! Ah, se não tivesse surgido na
terra a Mentira!
Mas agora o que está feito, está feito. Não adianta vivermos de
saudades, de ânsias recalcadas, de sonhos em que não acreditamos. Se só
abandonando toda esta colossal quantidade de lixo com que sepultámos a nossa
Natureza pudermos reencontrar a nossa Alma no seu Encanto original, porque
temos medo de iniciar a Viagem? O Caminho já o conhecemos. Jesus percorreu-o
até ao fim e mostrou-nos que ele desemboca na nossa Inocência original.
…
Maria é o modelo de todo o Encanto. Ela continuamente nos diz que também
nós podemos tornar-nos Encanto puro. Basta que fiquemos sem Pecado, como Ela.
Ora isto é possível. Olhamos à nossa volta, olhamos para dentro de nós e
meneamos a cabeça a dizer que não, que não é possível. Mas Jesus não concorda:
Ele acena com a cabeça que sim, que é possível. O problema é que nós nunca O
levamos a sério, nunca ouvimos o que Ele disse e repete continuamente: Ele veio
tirar o Pecado do mundo. Se O recebermos, ficamos com defeitos até à morte, mas
sem Pecado. Se acreditarmos n’Ele, se na verdade Lhe dermos o coração,
adquirimos a possibilidade de nos tornarmos Filhos de Deus. Isto está escrito e
parece que nunca o ouvimos. Ora um Filho de Deus é, obviamente, imaculado. Não
tem uma única mancha de Pecado. Se assim não fosse, teria sido inútil o
Sacrifício de Jesus.
E muita atenção, mais uma vez: este poder de nos tornarmos imaculados
Filhos de Deus nunca Jesus o colocou depois da nossa morte, num suposto Além.
Ele veio habitar entre nós para tirar o Pecado aqui – e não lá. Não somos nós
que vamos para o Reino dos Céus; o Reino dos Céus é que vem até nós! (Dl 28, 22/8/04)
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