Não gostamos nada de que nos chamem inúteis. Não gostamos de ser
transformados em instrumentos ao serviço de projectos que não são nossos. Mas
ninguém consegue libertar-se da ditadura do útil. A mensagem seguinte tenta
encontrar a origem deste tão frequente e pesado desconforto nas nossas vidas.
De facto, só o homem utiliza. Por isso também só ele declara alguém ou
alguma coisa inútil. E vejo agora esta Verdade em mais clara Luz. Ao inserir-se
no Projecto diabólico de construir uma alternativa à Criação, e não tendo a
capacidade de tirar coisa alguma do Nada, o homem teve necessariamente que
lançar mão das criaturas existentes, talhando-as segundo a sua conveniência
para ocuparem o lugar que lhes destinou na sua Construção. Mutilou-as assim na
sua natureza e esterilizou-as. E ei-las todas reduzidas a blocos mortos ou
meros instrumentos sem vida própria, que ele utiliza ou rejeita, conforme
servem ou não servem em cada momento a execução do sinistro Projecto. Os seres
deixam assim de ser um contínuo Mistério seduzindo, e depressa passam a perder
o interesse, tornando-se inúteis. Tudo se torna assim o contrário do Amor.
…
Quando Deus nos encarrega de uma qualquer missão, não está a
utilizar-nos ao serviço do Seu Plano? Não está, em verdade, a
instrumentalizar-nos?
Se Ele assim fizesse, já o sofrimento teria desaparecido da terra há
muito tempo. As nossas deficiências e as nossas dores mantêm-se justamente
porque Ele é incapaz de tocar na nossa dignidade, por exemplo transformando-nos
em meros instrumentos executores do Seu Plano de Redenção do mundo. Deus não
utiliza nada nem ninguém para executar o que quer que seja que não esteja
inscrito nas próprias sementes do nosso ser. Quando, pois, Ele entrega a alguém
uma missão, está só a despertar uma zona porventura adormecida do seu
específico Carisma. Nenhuma missão interrompe, portanto, o fluxo natural da
nossa vida, muito menos nos corta ou desvia capacidades, menos ainda torce ou
mutila qualquer dos nossos Dons originais. Mesmo quando a missão implica o
próprio sacrifício da vida, como foi o caso de Jesus, nada foi imposto de fora,
mas partiu de uma opção íntima, ditada pela mesma natureza do Verbo, cuja
essência é o Amor puro! (Dl
28, 10/7/04)
Veja também, por exemplo, o texto 482 (Julho 2011)
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