Um dos Princípios que Jesus nos inculcou com
maior insistência foi o Princípio da Incarnação, isto é, nunca devemos
afastar-nos do mundo em que nascemos e vivemos, por mais perverso que seja,
criando supostos oásis ou ceuzitos à nossa medida, sob o pretexto de nos
dedicarmos, em entrega exclusiva, às “coisas de Deus”. É só olhar os trinta
anos anónimos da vida do nosso Mestre e, porventura num radicalismo maior, a
vida toda de Maria, Sua Mãe: Jesus foi carpinteiro, um profissional da Cidade,
e Maria uma dona de casa a tempo inteiro. É deste caminho que fala o texto
seguinte:
O Diabo divide; o Amor diversifica. O diabo uniformiza os elementos
divididos; o Amor autonomiza os elementos unidos. O diabo, para uniformizar,
faz leis; o Amor, para unir, ama sempre mais.
Eis porque não pode haver na Igreja de Jesus uma única lei. A Igreja
evitará a divisão e fomentará a união sempre e só amando mais. E sabemos que o
Amor diversifica. É por isso que os discípulos de Jesus nunca podem abandonar
este mundo a pretexto de que o mundo é um reino diabólico; é justamente por
assim estar perdido que os discípulos de Jesus mais dele se aproximarão, até
nele morrerem, se necessário deixando-se uniformizar. Foi isto que Jesus fez
durante a maior parte da Sua vida entre nós. Ele deixou que a Sua vida encaixasse
na rotina uniformizante do reino de Satanás. Foi por isso que não deu nas
vistas. Outro tanto fez Maria, ela porventura ainda de forma mais radical: Ela
nunca deu nas vistas!
É, pois, necessário voltar a dar a máxima importância a esta Incarnação silenciosa.
É preciso que a nossa vida se derrame sem fazer barulho e se infiltre em
silêncio em todos os poros da Uniformidade, para que em todos os elementos
divididos comece de novo a palpitar a Vida e aí se reinicie o processo da sua
autonomização. Só assim, acordando em cada um o seu próprio Carisma, se
reconstruirá a União.
Alguns podem ser chamados a vida inteira, como Maria, a esta missão
discreta e silenciosa; outros, como Jesus, hão-de ser um dia chamados a ser uma
Luz fortíssima escancarando toda a Verdade. Mas repare-se em que, no Mestre,
esta Luz só brilhou nas trevas deste mundo depois de se ter infiltrado
silenciosamente em todos os poros do corpo resfriado da Cidade. É necessária
esta Explosão de Luz, um dia. Contemple-se, no entanto, em Maria, a força desta
mesma Luz derramando-se, discreta, na própria Explosão!
Sem comentários:
Enviar um comentário