Todos nós, crianças incluídas, conhecemos a sensação do ciúme. O próprio
Deus a conhece: a Bíblia diz que Ele nos ama com ardente ciúme. Uns
consideram-no sinal de amor, outros nem tanto. Sabemos todos é que ele nos faz
sofrer muito. Uma das características mais salientes destes “Diálogos…” é a
busca incessante da origem do nosso sofrimento, condição necessária para
passarmos do penso na ferida à sua erradicação definitiva, conforme nos está
prometido pela Palavra fiel do nosso Deus. A mensagem seguinte talvez nos possa
iluminar, neste propósito.
No Céu não há, obviamente, o ciúme. O ciúme só existe quando
consideramos alguém nossa propriedade privada. Se ninguém pudesse ser
propriedade de ninguém, se ninguém pudesse possuir ninguém como propriedade
exclusiva, se, enfim, ninguém fosse de ninguém, o mesmo é dizer, se todos
fossem de todos, que lugar haveria para o ciúme?
E efectivamente no Céu todos são de todos. Mas não porque todos se
tenham apropriado uns dos outros; cada um é que está ali como uma dádiva para
todos os outros. Recordemos que no Céu cada um é Mistério seduzindo, apenas. E
tanto pode seduzir um como todos ao mesmo tempo. Mas a sedução que exerce sobre
um outro não me tira a mim nada do que é meu; pelo contrário, o sabermos que um
outro está sendo seduzido pelo mesmo tesouro de alguém, em vez de nos afastar,
aproxima-nos, porque passamos a ter um tesouro em comum. Porque no Céu ninguém
é ladrão e o ciúme vem-nos de todos sermos ladrões: nós vimos todos do Pecado e
o Pecado consiste em nos apropriarmos em exclusivo daquilo que foi dado a
todos; a ambição introduzida em nós pelo Pecado pretende fazer de nós deuses –
cada um deus dos outros todos e de tudo quanto existe, obviamente! Vede que
frutos poderia dar uma tão cega estupidez!
Como se explica então aquela afirmação, tão repetida na Bíblia, de que Deus
nos ama com ardente ciúme? O Ciúme de Deus deve-se justamente ao facto de Lhe
termos roubado tudo quanto Ele tinha posto à disposição de todos,
particularmente nós próprios. Sim, nós éramos o enlevo de Deus e fugimos-Lhe,
éramos toda a Sua alegria e tirámos-Lha ao afastarmo-nos dos Seus Olhos e do
Seu Coração, empinados no nosso orgulho. É claro que Deus tem ciúme de tudo
quanto nos rouba e nos afasta do Seu Coração. Só Deus tem motivos para ter
ciúme. Quando todos regressarmos à Harmonia, o Seu Ciúme terminará. (Dl 28, 12/8/04)
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