Está escrito que Deus formou o Homem do “Pó
da Terra” e lhe insuflou pelas narinas o “Sopro da Vida”. E estas duas
componentes fizeram uma unidade tal que, sem uma delas, simplesmente o Homem
não existe. Nestes Diálogos chama-se geralmente ao Pó da Terra Carne e ao Sopro
da Vida Espírito e é aqui muito insistente a busca da Unidade humana perdida.
Por exemplo na seguinte mensagem:
Escrevo porque sou inesgotável. Escrevo porque Deus precisa de que
alguém dê perante o mundo este testemunho: nós somos Vida e somos imortais!
Habituados como estamos a ver que a nossa carne acaba por ir parar ao cemitério
e ali se desfaz até ficarem apenas os nossos “restos mortais” durante mais
alguns anos, mesmo o nosso espírito foi arrastado nesta morte. Assim, mesmo
admitindo que continuamos vivendo “em espírito” ou “como espíritos”, julgamos
que há-de ser um tipo de vida bem desinteressante, sem o colorido e sem os
contrastes da vida na carne. De qualquer modo, parece não nos seduzir muito
essa vida de puro “espírito”. É muito difícil concebermo-nos sem carne. Por
isso, mesmo aqueles que dizem crer numa vida para lá da morte, conservam sempre
um certo desconforto perante a perspectiva da ausência da carne. E se muitos
parecem aspirar à vida de puro espírito como a vida verdadeira e definitiva,
isso não se deve a um impulso harmonioso do seu ser, mas a uma persistente
doutrinação, que vai abafando e emudecendo as ânsias naturais da nossa “Anima” –
da nossa Alma. Não será a doutrina da reencarnação, por exemplo, uma
manifestação irreprimível desta natural fome e sede da nossa Carne, desta
consciência inapagável da indivisível unidade de Pó da Terra e Sopro da Vida,
de Carne e Espírito, no nosso ser?
Cada vez mais intensamente Jesus e Maria me estão conduzindo à
Re-Incarnação. É necessário, de facto, que o nosso Espírito, rejeitado pelo
Pecado, volte à nossa Carne solitária, confrangedoramente cega e desnorteada.
Quando aceitamos Jesus, é esta caminhada que Ele nos pede que façamos: que
deixemos o Espírito progressivamente tomar conta, de novo, da nossa Carne. Não
uma carne qualquer, descartável, mas a
nossa Carne das origens, que Ele purificará e transubstanciará em Carne de
Deus. Imortal, obviamente!
…
É preciso que o nosso Espírito
volte a incarnar na nossa Carne. É
preciso que o Diabo pare de nos dividir em dois – matéria de um lado e espírito
do outro!
Uma Luz fortíssima me ilumina agora a diabólica estratégia do príncipe
das Trevas: autonomizando o nosso Barro frente ao Sopro da Vida, ele pretendeu
vingar-se do Criador até à destruição pura do Homem, o Enlevo máximo de Deus!
Esta Luz começou a alastrar na vigília, mostrando-nos que a nossa redução à
Carne haveria de trazer consigo também o desprezo pelo Espírito até à negação
da sua existência em nós – ou haveria de nos reduzir a “espíritos”, fazendo da
nossa Carne um invólucro efémero, de usar e deitar fora, segundo a conveniência
do processo purificador do “espírito”, cuja meta final seria uma vida beatífica
nas alturas, sem carne. A libertação do Homem consistiria assim em libertar-se
definitivamente da carne!
Ora Satanás sabia que, se isto acontecesse, aquela empolgante Criatura
feita à imagem e semelhança do seu Criador deixaria simplesmente de ser Homem!
E seria, supostamente, um eterno súbdito seu. Mas está escrito que até a Carne
dos obstinados rebeldes ressuscitará. Para a ignomínia, obviamente! (cfr Dn 12,
2).
…
A Incarnação, em que Jesus tanto tem insistido nestes Diálogos,
entendo-a agora a uma Luz nova: ela é uma verdadeira Re-Incarnação! O Verbo, a
Segunda Pessoa da Trindade Altíssima, descendo à nossa Carne, nela derramou, em
toda a Sua Plenitude, o Sopro da Vida, o Espírito de Deus. Mas esta foi a segunda vez que o Sopro da Vida entrou
no nosso Barro, para refazer o Homem como Unidade Vivente que o Pecado
desfizera. Na verdade, o Pecado fizera da esplêndida Criatura do Sexto Dia “um
verme e não um Homem”, justamente aquilo em que Jesus Se tornou, para nos vir
buscar ao mais fundo da nossa degradação. Vejo agora, a esta Luz nova, a
tragédia do Pecado: ele desfez o Homem! E, assim desfeito, ele só poderia
desfazer tudo aquilo em que tocasse. A História mostra que foi assim! Desfeita,
pois, a Incarnação Primordial do Espírito no Barro, só uma Nova Incarnação
poderia refazer o Homem. Mas desta vez a nova Descida de Deus à Carne deveria
ser desejada; se o for, suplantará substancialmente a Incarnação inicial. (Dl 28, 20/4/04)
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