Ninguém
tem dúvidas de que levantámos uma obra espectacular, a que costumamos chamar
Civilização. Mas é também hoje cada vez mais generalizada a sensação de que
este portentoso Edifício não tem segurança nos alicerces e pode ruir, qual Torre
de Babel. Esta derrocada é, nesta Profecia, não uma hipótese longínqua, mas uma
certeza. Sem prazo, mas muito mais próxima do que julgamos. É, no entanto, com
muita alegria que enfrenta essa perspectiva.
Sabemos que quando a Escritura se refere à “carne” não entende só o que
em nós é físico e agarrável, mas também todas as faculdades inerentes ao corpo
físico e que os animais também possuem, algumas em grau muito superior ao
homem. Aquilo que no homem é claramente superior aos animais, e a que
vulgarmente chamamos inteligência, ou mente, ou espírito, são ainda faculdades
bem carnais, se as confrontarmos com o Poder do Sopro da Vida ou Espírito de
Deus, que pelo Pecado rejeitámos. É no entanto também verdade que permanece em
nós a noção da nossa grandeza original, como no coração do filho rebelde
permanece a memória da casa paterna que abandonou, particularmente da sua
infância tranquila e feliz.
Só esta esfumada memória do Amor que nos envolvia e trespassava na nossa
Casa original estabelece ainda uma ligação com o Espírito de Deus que, em
contrapartida, mesmo excluído do nosso projecto rebelde e escorraçado da nossa
vida, nunca nos abandonou, para que não deixássemos simplesmente de ser homens.
É esta memória longínqua da nossa grandeza e dignidade de Imagens de Deus que
tem, apesar de tudo, potencializado as nossas capacidades carnais, a ponto de
termos conseguido edificar a obra verdadeiramente espectacular a que chamamos
Civilização.
É claro que este fantástico Ídolo da nossa presunção tem pés de barro e
agora entendo melhor porquê: ele assenta todo sobre a Carne, sobre o Pó da
Terra, sobre o Barro que Deus havia seleccionado para a criação do Homem, mas
que só foi Homem quando ficou indivisivelmente unido ao Seu Espírito; separado
do Espírito de Deus, o Barro morre obviamente como Homem! Toda a construção que
a partir do Barro levantar, estará fatalmente destinada à ruína, tanto mais
espalhafatosa e trágica quanto mais pesar sobre esta frágil base de barro.
Aproxima-se o tempo desta gigantesca Derrocada. E Deus, que ama este
Barro como Corpo Seu, teve que assistir impotente a todo o desenrolar deste
tresloucado projecto da Sua criatura amada até à paixão. Por isso agora, mais
que nunca na História, Deus vai derramar de novo o Seu Espírito sobre esta
Carne resfriada, até a penetrar totalmente, para que, quando a Derrocada
acontecer, ela aceite morrer e assim desça ao Seio de Deus, para daí renascer!
(Dl 27, 1/3/04)
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