Tem, na Bíblia, uma importância decisiva o Deserto.
Ele precede sempre os grandes momentos. Depois da épica libertação dos judeus
do Egipto, quando todos esperavam avançar logo para a Terra Prometida, Yahveh
conduziu-os para o Deserto, onde os fez passar quarenta anos. Quarenta! É muito
ano. A chegada do Messias começa no Deserto, onde João, o Baptista, preparava
os corações para O receberem. O próprio Messias viveu anónimo entre os anónimos
durante trinta anos e, imediatamente antes de iniciar o anúncio do Reino Novo,
passou quarenta dias no Deserto. Também aqui, nestes “Diálogos…”, é importantíssimo
o Deserto. É bom conhecê-lo, porque ele não é bem o que se pensa. Ora ouçam:
Sempre vivendo num interminável Deserto, continuamente esmagado pela
Aridez, a minha vida foi-se enchendo de Deus! É como se este fosse exactamente
o caminho directo para o Seio de Deus! Não é que a Solidão e a “Abominação da
Desolação” tenham acabado: eu estou agora reduzido ao mais estreito carreiro em
que já alguma vez vivi e o meu coração continua mirrado de sede, cansado desta
longa espera.
Mas sinto agora que foi este exactamente o Caminho de Deus entre nós. E,
mais do que isso, sinto que Ele o está seguindo de novo, em mim. Conforme
testemunham estas páginas, pedi-Lhe muito que me deixasse seguir os Seus
passos, pôr o pé nas Suas exactas pegadas. E Ele fez mais do que isso: levou-me
a percorrer territórios do Mistério que nem Ele próprio tinha percorrido
durante a Sua vida terrena. Não é que os não tivesse sonhado, mas nunca chegou
a exprimir os Seus Sonhos! Porque a Hora não tinha chegado.
Mas agora chegou. E o Rio do Seu Coração pôde, enfim, correr, livre, por
todos os vales do Deserto. E sinto Jesus muito, muito feliz: levanta os braços,
estende-os de horizonte a horizonte, e roda no meio da Devastação, como se já a
estivesse vendo coberta da Criação original, mais bela que nunca! E assim roda
como uma criança feliz, sorvendo o ar puro de que está cheio de novo o céu. E
olha as estrelas, embevecido: Ele vai poder finalmente oferecer ao Pai a
Surpresa que Lhe vai transformar definitivamente aquela Lágrima enorme numa
gigantesca Lágrima de Alegria: a Terra será agora o Berço imaculado dos Seus
Filhos e o Novo Éden ultrapassará o dos Seus Sonhos! (Dl 27, 10/3/04)
Veja também os textos 71(Abril 2010) e 168(Agosto 2010)
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