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Parece teologia abstracta, teórica, aquilo que ultimamente escrevi sobre
a nossa natureza e a natureza de Jesus. Mas não é. Nunca é abstracto, nem
teórico o que escrevo. Tudo jorra para o papel a partir da fonte da minha Alma,
penosamente desentulhada muitas vezes pelo coração, cada vez mais robusto, cada
vez mais dilatado.
É, pois, na busca sedenta da minha unidade que mais recentemente tenho
avançado, porque justamente me sinto dividido entre o meu Barro que ainda e
sempre teima em colar-se ao chão, e o meu Espírito que está tentando invadi-lo
através das pulsações fortes do meu coração libertado, enfim, da opressão da
Cidade. E a minha ânsia máxima é que o Espírito tome inteira posse do meu
Barro, vivificando-o completamente, para que eu regresse, enfim, à minha
genuína natureza de Homem.
Eu quero ser de novo puro Homem!
Mas quando isto desejo já não me contento em ser o Homem-criatura das
Origens; eu quero mais, muito mais: eu quero ser o Homem das Origens escolhendo ser Filho de Deus! Eu quero
ser um Homem Filho de Deus.
Mas como? Para que eu seja um Homem Filho de Deus, um Homem
verdadeiramente Filho natural de Deus, não é necessário que Deus seja
verdadeiro Homem? Se Deus não existir antes de mim como Homem, como pode a
minha humanidade nascer d’Ele?
- Jesus, vem escrever comigo a mais louca heresia de
todas quantas me fizeste escrever.
- E queres escrevê-la?
- Já agora… Mostra-nos mais um pouco da loucura da
Misericórdia de Deus.
- É só mais um pouco do Mistério do Amor o que desejas
escrever?
- Sim, é só mais um pouco: o Mistério do Amor amplia-se
sempre como Mistério à medida que se revela.
- Ao escreveres a heresia de que falas, ampliou-se
diante de ti o Mistério do Amor?
- É isso mesmo, Mestre: Deus será sempre mais fundo
Mistério para mim.
- E que região do Mistério de Deus atinge a tua heresia?
- O Mistério do Homem.
- O Mistério do Homem faz parte do Mistério de Deus?
- Todos os Mistérios fazem parte do Mistério de Deus.
Mas o Mistério do Homem, está-me aparecendo agora tão grande, tão fundamental
em Deus!…
- É aí que se situa a tua heresia?
- Não queres dizer nossa
heresia, Mestre?
- Quero, Meu filhinho. Diz nossa.
- Acho que já está escrita a heresia!…
- Ai já? Onde?
- Tu disseste “filhinho”!
- Sim. E depois?
- Tu disseste assim que a Tua natureza é a de um Homem
que gerou outro Homem!
- Eu sou Deus verdadeiro?
- És.
- Então também tu és Deus verdadeiro!?
- Sou.
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