- Segundo estes Sinais, há qualquer coisa, Maria, que o
Diabo não quer que eu veja, que oiça, enfim, há uma revelação que ele não quer
que eu testemunhe. Mas nestes casos mais ainda me apetece cortar a direito.
Vens comigo?
- Tu és um guia muito seguro, sabias?
- Já calculava, sim.
- Eh lá! Isso não é presunção nem nada?
- Se é, és Tu que tens a culpa: dizes sempre que queres
seguir por onde os meus passos Te levam…
- E não é só por isso que te sentes assim seguro…
- Pois…acho que essa é uma das minhas características
nucleares. É talvez até por isso que eu não sou muito simpático; sou pesadão,
introvertido, sério, lento…e as pessoas gostam da Leveza, que Tu tens e encanta
toda a gente…
- Espera, espera… Queres dizer que Eu não sou segura?
- Bem, acho que já me enrascaste… Deixa ver… Que és
seguríssima, disso eu não tenho dúvida; agora explicar que segurança é essa que
Te faz assim tão leve mas tão viva, tão frágil mas tão poderosa no fascínio que
exerces sobre todos nós - explicar isso é que eu não sei se algum dia conseguirei.
- Talvez não seja assim tão difícil: é por que a Minha
Raiz está em Deus, o Absolutamente Seguro. Que tal este argumento?
- Claríssimo. Mas então diz-me: porque é que eu não
tenho assim essa Tua Leveza, essa fascinante Fragilidade Omnipotente?
- Porque Eu sou a Mulher e tu és o Homem. Outro
argumento incontestável, não?
- Isto é, o destino do Homem é ser grosso, rude, pesado,
sério, antipático. Seguro, mas bruto, sempre!?
- Tu é que Mo podes dizer… Acabas de confessar que és
seguro. Nunca consegues ser leve, delicado, meigo, terno, simpático?
- Olha, as mulheres que já se cruzaram comigo
intimamente até hoje, confessam-se admiradas com a minha capacidade de ser
terno, delicado, meigo, leve, simpático - essas coisas todas.
- Então pronto, está explicado: a segurança não só não
é incompatível com a leveza, a fragilidade e o encanto, mas parece ser mesmo a
base imprescindível para que aquelas coisas floresçam!
- Mas aquelas mesmas mulheres também dizem que sou
bruto e pesado e demasiado sério e…olha, têm-se afastado de mim por isso,
algumas.
- Será mesmo por isso? Tens a certeza?
- Não. Certezas…sabes que não há. Mas que eu sou tudo
aquilo, é verdade. E que elas não gostam, também.
- Será que é mesmo daquilo que elas não gostam? Diz-Me:
és bruto quando? Porquê? É que isso está sendo um enigma pra Mim: Eu nunca te
vi ser bruto Comigo!
- Pois…acho que já sei para onde me estás a querer
dirigir os olhos… Nunca fui bruto Contigo, porque Tu nunca me deste motivos
para isso. Tu nunca me violentaste. Tu nunca me tentaste reduzir ao espaço da
tua carência imediata. Nunca de forma nenhuma mostraste que me consideras
propriedade Tua. Tu nunca me impuseste os Teus caminhos! Ainda há pouco - recordas-Te? - Tu disseste que eu sou um guia! E um guia seguro.
Isso significa que Tu não Te importas, talvez até Te sintas muito feliz por ser
eu a conduzir…
- Ah, mas isso não é nada bom, pois não? Tu sempre a
conduzir e Eu sempre a ser conduzida…já deu para ver que também não gostas
mesmo nada disso…
- É verdade, não gosto: conduzir dá trabalho e
preocupações… Conduzir sempre então… Acho que já vi o que me queres dizer… Se
nenhum de nós se tornar propriedade do outro, aquele que conduz sempre
descansará na condução do outro. Quantas vezes és Tu que viras Condutora! E com
uma classe como eu nunca vi!
- Procura então ser sempre o que és, por natureza: a
bruteza tornar-se-à determinação, apenas, e todas as mulheres gostam muito
disso…
São 10:31!!
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