21/2/00 - 3:52
Havemos de chegar, meu Amigo, havemos de chegar! - assim
repito eu a Jesus recostado no meu colo, no meio desta Solidão. E depois começo
a imaginar o Dia do Encontro… Eu sei que Jesus não gosta muito de que a gente
se ponha a imaginar o futuro, porque tem medo que desperdicemos o momento
presente. Mas às vezes o presente é tão doloroso, que sentimos necessidade de
espreitar um pouco o futuro, para aliviarmos a tensão da espera…
O nosso Companheiro não leva a mal, porque sente, mais do que nós, as
nossas dores todas e também Lhe apetece espreitar o futuro. Mas logo volta a
insistir connosco em que vivamos o mais intensamente possível cada momento
presente.
- Diz porquê, mais uma vez, Mestre. Porque dás tanta
importância ao momento presente?
- Não sei qual é a tua dificuldade em entender…
Imaginas alguma árvore preocupada com o Verão quando está vivendo a sua plena
Primavera?
- Não, mas já a imagino sonhando a Primavera quando
está em pleno Inverno…
- É então a dor que faz afastar do momento presente?
- Parece que sim…
- Não imaginas o Verão sonhando com o Outono?
- Sim, até posso imaginar: o Verão deve chegar ao fim
cansado, com uma grande vontade de deixar cair os frutos e todo o peso das
folhas… Deve ser muito agradável para o Verão entrar no Outono… Deve ser como
quem se entrega ao sono depois de um dia muito cansativo.
- Parece então que cada futuro é sempre mais agradável
que cada presente!?
- Sim, parece que sim.
- Faz então parte do presente procurar sempre o que é
mais agradável!?
- Sim, parece natural que assim seja…
- Faz então parte de cada presente desejar o futuro!?
- Sim, se cada presente não desejasse o futuro, dá a
sensação de que acabaria ali a vida…
- Olha: já alguma vez te disse que não deverias sonhar?
- Não; pelo contrário, falamos os dois muito dos nossos
Sonhos!
- E não Me estou contradizendo quando insisto na
importância do momento presente?
- Vou responder às cegas: não há contradição nenhuma em
Ti. Isto é ponto assente.
- Como explicas então aquilo que parece tão
contraditório?
- Estou agora vendo: cada momento presente é feito não
só de futuro, mas também de passado.
- De passado também?
- Sim, e muito!…
- Que tem em si, do Inverno, a Primavera?
- Um tronco e uns ramos despidos, disponíveis para
neles desabrochar.
- E de Verão que tem em si já a Primavera?
- Tem, na fúria que a acompanha, já a abundância do
Verão.
- Estás entendendo agora porque é tão importante o
momento presente?
- Ele é, aqui no tempo, a expressão da Eternidade.
- Como assim?
- Não consiste a Eternidade em estar todo o tempo
presente ao mesmo tempo? O nosso presente é toda a possibilidade que temos de
viver aqui já a Eternidade!
- E que te diz isso acerca da Eternidade?
- Diz que ela, ao contrário do que habitualmente julgamos,
não é estática, não é um infinito espaço onde nada acontece porque já tudo
aconteceu; é antes um imenso mar ondeante, em que cada onda se sabe pertencer
ao corpo único do mesmo mar, sempre vivo, sempre Acontecimento puro.
- Ao pedir-vos que vivais o momento presente estou a
querer que participeis na Eternidade?
- Assim estou vendo agora. Continua explicando, Mestre!
- Não vos estou então proibindo de pensar no passado
nem no futuro!?
- Não; estás dizendo que em cada presente valorizemos
quanto pudermos o passado e aí mesmo nunca deixemos de sonhar.
- O presente consta então de passado e futuro?
- Sim, que é preciso viver intensamente, para que nada
de nós se perca.
- Quando Me dizias há pouco Havemos de chegar! Havemos
de chegar!, estavas vivendo intensamente aquele momento?
- Estava, Mestre: era todo o passado da nossa Afeição
que ali estava, acreditando no futuro.
São 6:24.
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