- Tu e a Igreja! É isto, Maria, o que está escrito
nestes Sinais. E vai ser mesmo bom caminharmos por aqui. Vamos?
- Vamos, sim, Meu amor, por onde o teu coração pede.
- E o Teu Coração não To pede também?
- Sempre o Meu Coração Me pede que caminhe por onde o
teu coração encontre uma qualquer surpresa e se deixe seduzir por ela.
- Mas o Teu Coração tem desejos próprios, não?
- Tem. Os Meus desejos próprios, quando estou contigo,
são as surpresas que seduzem o teu coração acordando, irrequieto, vivo,
imparável. O Meu desejo enorme é ver-te desabrochar.
- Mas os Teus
desejos daqueles…universais…a salvação do mundo…a transubstanciação de toda a
Existência criada…a libertação dos corações…
- Tu és o Meu Universo, quando estou contigo. E Eu estou
sempre contigo, agora. Esqueceste que vivemos os dois escondidos no Deserto,
para nos tornarmos uma só Carne?
- Por isso mesmo: também os Teus desejos próprios se
deveriam tornar meus!
- E estão tornando. Não viste ainda? Não Me identificas
e distingues tu frente a todas as outras pessoas, a todas as outras mulheres,
mesmo quando Me chamas A Mulher?
- É verdade, acho que sim, que Te distingo bem de todas
as outras mulheres. Mas ao mesmo tempo - coisa surpreendente! - vejo em Ti todas as mulheres! Ou será sempre a Ti que
eu vejo quando observo todas as mulheres que por mim passam?
- Talvez o convívio Comigo te tenha levado a ver de
outra forma todas as mulheres, não será isso?
- Sim, certamente que é isso mesmo… Agora contemplo-as
e sou arrebatado por coisas que raramente se vêem…
- Como? Como é isso? Vês nelas o que ninguém vê
- Talvez seja isso mesmo, sim. Encanta-me a voz delas,
a suavidade do seu corpo, a leveza dos seus gestos, a delicadeza dos seus
sentimentos, a fofidão do seu colo, onde apetece descansar e adormecer. E
depois…depois…todo o ardor do Paraíso que escondem no vibrar sensual de todo o
seu corpo quando, sedentas, recebem, no seu, o nosso corpo…
- Sim, mas…tu achas que ninguém vê isso?
- Pelo menos ainda não encontrei ninguém que o
partilhasse comigo. E quando eu, timidamente, tento entreabrir o véu de todo
este Mistério da Mulher, logo verifico que as pessoas não estão disponíveis
para receber em si este arrasador Mistério, porque logo desviam a conversa para
o que nelas desperta a nossa gulodice.
- E tu alinhas nessas conversas, conforme eu posso
constatar!…
- Alinho. Pois que hei-de fazer? Se abordo levemente
aquele Mistério nelas escondido, logo verifico que estou deitando pérolas a
porcos…
- Todos porcos, menos tu!
- Não deixas passar nada! A verdade é que eu sinto
mesmo assim: sou um privilegiado, a quem foram revelados tesouros há séculos
escondidos. Mas vê se a tal privilégio não corresponde uma dor igual! Vê como
regresso sempre destas conversas de semblante abatido, porque ninguém quis
receber aquilo que eu tanto lhes queria mostrar…
- E dar!?
- Sim, claro! Era tão bom que toda a gente quisesse
receber este Rio que me inunda! Mas pobrezinhos deles todos, e pobrezinho de
mim e pobrezinha de Ti e pobrezinho de Deus, que temos que suportar todos este
reino tenebroso, totalmente fechado à sedução do Mistério! Há milénios
infinitos que suportamos isto, Maria!
- Sim, é verdade, estamos todos à espera da Hora da
Mudança, mesmo aqueles que já disso perderam a consciência! Que fazes tu então
entretanto?
- Registo tudo o que se passa comigo. Sei que a Hora
chegará. E quando isso acontecer, nascerá, primeiro, a Comunidade dos Chamados
que, possuídos do Mistério, não o poderão mais calar.
São 10:45!!
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