19/2/01 — 4:55
Tudo se desmoronou. Nunca vivi tão completa derrocada. Aparece-me tudo quanto escrevi como uma prosa intragável, inteiramente balofa. O Céu tornou-se-me de repente também pura fantasia. Estou sentado no meio de uma ruína, sem ninguém com quem partilhe a minha absoluta solidão. Não tenho nenhuma saída: se o caminho que segui até agora conduziu a uma ruína, caminhar em sentido contrário, para o território que fui deixando, é completamente impensável, porque aí então é que já mesmo nada me seduz. O chão é todo preenchido com esta ruína e a abóbada celeste, de um brilho baço, de zinco, não tem uma única estrela. Esta claridade não é sequer o brilho do luar. Parece de dia, mas não se vê vestígio do sol. Incomoda-me uma afta que tenho na boca e está-me a cabeça dorida.
Que faço? Recorro a quem, se na terra ninguém me entenderia, se no Céu…no Céu não há ninguém?
Vou esperar. Vou aguardar pelo romper do dia, para o encher com as tarefas que me esperam: tenho a rotina diária, tenho os testes de uma turma para ver e tenho que elaborar um teste para uma outra turma. Posso fazer tudo como autómato, mas não vou deixar de fazer nada do que o meu dever exige que faça. E vou ver se arranjo tempo para escrever tudo o que se passar dentro de mim. Porque nisto eu continuo acreditando: só dentro de mim encontrarei a saída para este diabólico cerco. Vou, portanto, fazer desta espera uma busca incessante de todos os recantos da minha Alma. Dizem-me os sábios e prudentes que, se faço assim, acabo por asfixiar e morrer. Mas eu respondo-lhes que, para me puxar para fora, já tenho todos os meus deveres perfilados, à espera. E que, para o lado de dentro, não está tudo ainda explorado…
Vistes, meus irmãos, aonde me conduziu a busca de Deus? Vedes a que provas pode ser sujeita a nossa Fé? Reparai: Não tenho nada mesmo que me fale de Deus, nem lágrimas. Os meus costumados Sinais, nem sequer esses os tenho, porque se o Céu me desapareceu, muito mais os algarismos perdem todo o significado. Só mesmo um acontecimento inesperado me poderá abrir qualquer brecha neste cerco.
Mas se esse acontecimento não vier? Alto! Aconteceu agora, quase imperceptível, um muito breve suspiro. E este impulsozinho tão leve veio dizer-me que estou vivo onde tudo parece ter falhado: no coração. E esta avezinha tão leve, que tão depressa veio como desapareceu, falou-me de uma qualquer abertura neste cerco. Justamente uma abertura para dentro…
Sei que de mim mesmo não posso fazer nada, agora, senão continuar a crer, isto é, a dar o coração - todo o que tenho em cada momento. Esta é a única iniciativa que eu posso tomar: continuar a desejar, com todas as forças do coração, muitas ou quase nenhumas, que Deus venha buscar-me. E Deus vem. Tem que vir!
São 7:11!
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