— 11:08:08/9
O Sinal do fim da vigília explicita de forma muito clara a natureza da Paz de Deus. Ela é justamente Diversidade na Unidade. Mas a interrogação que coloquei manifesta a minha surpresa por aquele Sinal vir logo a seguir à declaração de que Maria neutralizará por completo a acção da Serpente. Advertiu-me assim Jesus de que a obra de Satanás consiste precisamente em eliminar a Variedade e que é justamente a Fonte da Ternura de Deus manifestada em Maria que restituirá à terra a Diversidade perdida e, com ela, a Unidade.
Da Variedade fez o Diabo, de facto, Divisão, convencendo cada homem de que seria um deus, o que o levou a tentar pôr todos os seus semelhantes ao seu serviço. E não nos enganemos: Satanás faz isto da forma mais disfarçada que se possa imaginar. Assim, pode um impressionante espectáculo de “caridade”, ou de “generosidade”, ou de “altruísmo” encerrar uma bem disfarçada intenção egocêntrica. Pode até uma atitude de fragilidade ou de impotência encobrir uma perversa intenção de pôr os outros ao seu serviço.
Só a Cheia de Graça nos poderá ensinar de novo a dar de graça. E entendo que dar é, acima de tudo, largar a tentação da posse, olhar cada um para si mesmo e reconhecer a sua extrema humildade de grãozinho de pó. Como a Virgem de Nazaré. Largar tudo àqueles que tudo querem. Reconhecer-se puro Dom. É este o alicerce de toda a Variedade. De facto, só naquele que assim se reconhece nada, pode Deus iniciar a realização do Sonho que veio sonhar para o meio de nós: transformar-nos em Fontes divinas que eternamente O surpreendam a Si próprio!
Só na nossa humildade pode Deus fazer “grandes coisas”, como foram aquelas que realizou na nossa pequenina Irmã de Nazaré. E está aqui a Fonte de toda a Variedade, porque Deus não faz duas “grandes coisas” iguais. E é esta atenção exclusiva ao trabalho de Deus em nós que nos libertará da tentação de atrairmos a atenção dos outros, desviando assim do Único Centro os olhares dos nossos irmãos.
Só deste modo o nosso olhar se tornará também um olhar terno, filho do Olhar do Pai, presente de forma encantadora diante de nós no Olhar da Mãe de Deus. Deixaremos então de querer conquistar os outros, mas pelo contrário olharemos para eles com os olhos muito largos das crianças, para quem tudo no mundo é surpresa que recebem através daquelas suas janelas enormes escancaradas, com o ar espantado e feliz que lhes conhecemos. É assim que vejo também o Olhar da nossa inocente Maria: muito largo, muito aberto para todo o Horizonte do Mistério que, como sabemos, se abre sempre para novo Horizonte…
Só um olhar assim virgem é verdadeiramente terno, porque nos revela também a nós como únicos, como surpresa para a pessoa que nos olha. Mas aqui confesso que não tenho ainda este olhar. O meu olhar é muitas vezes ainda turvo de insegurança, de tristeza, de dor. Mas julgo que é por nunca ter encontrado ninguém assim de olhar liberto e grande como o Olhar de Maria. Por isso me dá tanta pena das pessoas todas. Todas. Dos pobres, mas também dos ricos. Dos que são atribulados com todas as dores, mas também daqueles que passam a vida divertindo-se. Não encontrei ninguém ainda com o olhar virgem da minha Rainha e minha Mãe e minha Irmã e minha Enamorada Maria. Ninguém. Por isso também o meu olhar ainda só quer ser inteiramente aberto, mas não consegue…
Quem olhar para mim agora julgo que encontrará um olhar desfalecido. Desfalecido de uma espera que só o Olhar de Deus presente na minha Companheira Maria me mantém ainda firme. Porque Ela confia em mim e faz-me sentir único. Quando me encontrar com todos os outros que sei estarem também assim quase desfalecidos neste mesmo Deserto, então terei de repente a verdadeira visão da Variedade! E o meu olhar caído tornar-se-á cheio de límpida Ternura, muito largo e tranquilo. Porque nessa hora cada um dos meus companheiros será pura surpresa para mim e ao mesmo tempo o sentirei tão próximo, que me parecerá tê-lo conhecido desde o início da minha existência!
— Maria, se pudesses falar comigo um pouquinho…
— Sim, conta-Me tudo o que pesa no teu coração.
— E Tu não sabes?
— Não. Só sei que te está doendo muito. Mas até a tua dor é surpresa para Mim.
— Como? Não sabes o quanto me está sendo insuportável esta Escuridão?
— Sei que dói muito. Mas quero que me digas exactamente o que te dói.
— Agora a dor atinge-me até a cabeça!
— Ah! Então lembra-te: não é na cabeça que está a central de comando do Dragão?
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