— 9:38:45
Atravesso de novo um momento de especial secura. Poderia, em casos destes, pôr-me a fazer qualquer coisa que me espevitasse as emoções fazendo, por exemplo, um difícil jejum, fazendo longas orações, de braços levantados… Mas sinto sempre que não devo fazer nada disto; quero que seja Jesus a dizer-me o que devo fazer e fico assim muito tempo à espera, à espera. Só Lhe peço muito que me diga o que quer que eu faça.
Mas às vezes, como agora, surge-me algures cá dentro esta interrogação: não ficaria o Céu feliz se eu Lhe fizesse uma surpresa, tomando a iniciativa de executar qualquer acção, sem que para isso tenha recebido qualquer impulso do próprio Céu?
Mas esta minha interrogação está-me surgindo agora mesmo no coração como uma rematada palermice: a própria iniciativa de fazer ao Céu uma surpresa seria sempre um Dom de Deus! Não vem de Deus tudo o que é bom?
— Maria, vem, com a Tua simplicidade, esclarecer-nos sobre esta nossa condição de sermos livres e ao mesmo tempo de nada podermos fazer de bom a não ser em Deus.
— Não andaste já passeando tantas vezes pelo Mistério do Livre Arbítrio?
— Pois andei. E só fiquei pasmado. Parece-me que há ainda tudo para ver.
— Que te está prendendo agora especialmente o olhar do coração?
— Aquela afirmação de Jesus uma vez, muitas vezes escrita nestas páginas, de que nós podemos surpreender Deus. Como podemos surpreendê-Lo, se tudo quanto possamos fazer de bom sempre d’Ele próprio virá e apenas n’Ele subsistirá, já que fora d’Ele nada existe?
— Olha: Jesus pode fazer surpresas ao Pai, ao Espírito?
— Claro!
— E há alguma coisa no Filho que não seja já do Pai ou do Espírito?
— Não: nada pode existir que não exista simultaneamente nas Três Pessoas da Santíssima Trindade.
— Como pode, portanto, Jesus surpreender o Pai e o Espírito?
— Não sei. Muito menos hoje, em que a secura me aperta de uma maneira muito especial, como Tu sabes.
— Que fizeste agora?
— Não vi saída nenhuma para este diálogo, parei de escrever e voltei-me para Ti, pedindo-Te que me não deixasses escrever nada que não fosse a Verdade.
— Havia alguma razão especial para isso?
— Havia: à minha frente estava só um muro branco e a minha Fé parecia que se iria quebrar toda contra ele.
— E que força te projectava contra esse muro?
— Não sei… Era talvez a sensação de que eu me estaria a meter onde não era chamado.
— Sim? E quem te tinha metido aí nesse caminho por onde estavas avançando sem que tivesses sido para aí chamado?
— Não faço ideia… O Diabo? Eu próprio, por iniciativa minha?
— Não consegues decidir ou determinar o que se passava?
— Não. De modo nenhum.
— Então porque te não ofereces assim tal como estás, com toda a tua incapacidade, a Jesus, em Quem tanto confias? Já te esqueceste de como é bom reconheceres-te incapaz?
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