30/8/00 — 2:00 — Faro
Um alerta ressoa por todo o meu ser quando o Sinal do Espírito me aparece com invulgar insistência. Será agora? - logo o meu coração pergunta, no meio do Silêncio tenso da minha catedral interior. É que eu sei do abalo que será em toda a terra quando Ele entrar em acção em obediência ao esperado Aceno do Pai!
Vivo, de facto, suspenso dessa Hora, como se tudo o que houvesse a fazer já tivesse sido feito e agora nada mais restasse senão esperar.
Mas desde este meu último e decisivo encontro com o Mestre eu passei a mover-me num Mundo todo outro e aqui as palavras adquiriram um significado muito mais amplo… Agora quando digo que vivo suspenso de um acontecimento futuro estou só caracterizando o meu momento presente e vivendo-o de forma intensa; quando afirmo que apenas estou esperando, não estou falando de inacção, mas apenas de um momento especial da minha caminhada. É que neste outro Mundo cada momento é sempre um momento cheio: há nele sempre tesouros novos a desenterrar e se o ultrapassamos olhando para um outro troço do caminho mais além supostamente mais rico, pode dar-se o caso de virmos a perder tudo, cá e lá, porque aqui pode estar enterrada a chave sem a qual não será possível abrir a arca enterrada além, onde estão encerrados os tesouros com que sempre sonhámos.
Por isso esta tensão só me põe agora muito atento ao território que atravesso: sei que ele é muito importante para o desencadear da Hora de que todo o Universo está suspenso. Assemelha-se aos momentos particularmente densos daquela Quinta-Feira antes da Páscoa decisiva. O clima é o de uma dolorosa despedida. Mas tudo nos parece absurdo, porque por um lado tudo está no seu lugar e por outro tudo se movimenta já para um outro lugar que desconhecemos.
É este o dia da entrega do nosso corpo para servir de alimento a quem dele tiver fome, da entrega do nosso sangue para ser bebido por quem dele tiver sede. É o dia de dizer: Podeis ficar com tudo o que de mais precioso tenho; eu sou imortal e desci do Céu; agora, ao voltar para lá, deixo-vos a minha vida que nunca mais morrerá, para que vos alimenteis dela.
Recordemos o que aconteceu com Jesus: efectivamente, a partir deste momento, parece que a Humanidade inteira, como uma alcateia de lobos esfomeados, se precipitou dobre o Corpo do Filho de Deus, como se ali encontrasse a carne saborosa que desde sempre lhe fora prometida. Estávamos nós todos ali: os Judas de todos os tempos tentaram ganhar dinheiro com Ele e os grandes a quem entregámos os nossos destinos satisfizeram n’Ele a sua fome de séculos, enquanto nós outros seguíamos o repasto de longe…
Também hoje assim será, para quem seguir o caminho do Mestre. Este é o tempo de dizer ao Pai que entregamos voluntariamente o nosso corpo para a vida do mundo.
São 3:37!
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