Cuidado! A tolerância, de que hoje tanto se fala, pode não ser uma
virtude. Sobretudo quando é o poder que fala. É que o poder não suporta a
diversidade, mesmo que continuamente proclame o “direito à diferença”. O poder
uniformiza tudo, para mais eficazmente tudo controlar. Atenção: pedir tolerância
pode querer dizer apenas isto: não façam ondas; deixem estar tudo como está.
2/6/96 – 4:43
Aqueles algarismos mandam-me escrever o
Evangelho da Riqueza de Deus. Mandam-me dizer que o próprio Deus é Três e que
aquilo que mais e melhor caracteriza Deus é ser Inesgotável, é ser eterna
Surpresa. Inversamente, aquilo que no homem mais contraria e ofende Deus é a
tentativa de uniformizar. E o homem, à medida que lhe cresce o poder,
manifesta-o uniformizando sempre mais. Hoje a Cidade geme, porque é impossível
calar a angústia que vem da uniformização. Então a Besta inventou a Tolerância
para abafar o grito dos corações transformados em peças e por isso mutilados,
amarfanhados, esgotados de vida. As sociedades actuais, democráticas, não
mitigaram, muito menos inverteram este processo de uniformização: se não têm
“ministros e sátrapas” para serem os olhos e os ouvidos do rei conformando tudo
e todos com a sua vontade redutora e uniformizadora, têm agora nesta mesma
Babilónia jornais e rádios e televisões e computadores que muito mais
eficazmente atingem o mesmíssimo objectivo. Cresceu a monstruosa máquina e
refinou a sua manha: a tolerância é uma outra forma de transformar seres vivos
em peças, relações humanas em engrenagens rodando todas segundo a vontade do
senhor da Morte.
Deus não reduz: amplia. Fazer a Vontade de
Deus é desabrochar para a Imensidão. Deus não tolera: altera. Onde Ele entra,
tudo muda. Ele veio justamente para transformar a face da terra, até a fazer
toda nova e sobre ela fazer crescer um Céu novo. Por isso Ele próprio Se
altera, faz tudo para chegar até onde nós estamos, até nos entrar na secura e
na frieza do coração feito peça, para lhe restituir o ritmo da vida. “Eu
alterarei o Meu estômago, para que ele goste do que vós gostais” – disse-me Ele
ontem e logo me conduziu à Bíblia, fazendo do meu dedo seta que apontou isto:
“…como na harpa os sons mudam de ritmo” (Sab 19, 18). Ele altera todas as leis
da natureza, se for preciso, para que o homem possa passar em segurança, vindo
da terra da escravidão.
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