Não tem sido fácil o meu caminho depois de ter encontrado Jesus vivo.
Não é fácil para ninguém: passamos a ser conduzidos por um caminho tão desviado
dos nossos caminhos, tão escandaloso frente ao senso comum, que muitas vezes
nos assaltam dolorosas dúvidas…
28/5/96 – 6:06
Dizem os algarismos que Satanás procura
asfixiar o meu coração. E é, de facto, o que sinto: não só a aridez e a frieza
se instalaram dentro de mim, como também me está a alma povoada de forças
negativas: irritação, rejeição, protestos, amargura. Uma sensação frustrante de
que todas estas folhas são ridícula obra minha. E o pior é que não tenho
caminho: encontro-me, depois de tanto ter andado, no fim de um beco, sem
nenhuma saída, remoendo o meu desapontamento, a minha inutilidade.
– Exagerei, Mestre?
– E Eu ainda existo algures, no teu coração?
– Apenas sei
que continuas lá, porque até o Teu Encanto e a Tua Paz foram atingidos por este
verdadeiro tornado que transformou o meu coração num caos.
– Com quem falas, então, neste momento?
– Não pode ser com mais ninguém senão
Contigo.
– Escreve o que sentiste agora.
– E se Tu fosses só uma quimera dentro de
mim, que eu inventei?
– E que responderias a essa voz, Meu amigo?
– Que não pode ser: Tu és Encanto e Paz. Tu
és vivo, dentro de mim.
– Mas a voz não se está calando, pois não?
– Não. Continua, com toda a autoridade de um
sábio: o encanto e a paz são ânsias tuas que projectaste nas personagens
inventadas, dando-lhes, por esta via, existência e consistência.
– E tu como respondes, desta vez?
– Não tenho resposta, Mestre. Se o sábio me
diz que o amor que sinto pode ser inventado, como posso contestá-lo?
– Pergunta ao sábio como sabe ele tudo isso,
donde lhe vem a capacidade de penetrar na tua alma.
– Ele provavelmente responde-me que são
dados da ciência, que tudo isto está provado.
– E tu?
– Eu não saberia responder-lhe.
– E que farias?
– Nada. Ficava no meu beco, sentava-me no
chão, dobrado sobre a minha dor e quando chegasse a noite provavelmente
adormeceria, na esperança de que o amanhecer me iluminasse qualquer caminho de
saída. E Tu, Mestre? Tu tens alguma resposta para estes sábios que sabem tudo?
– Não. Também não tenho resposta nenhuma. Os
sábios só aceitam as suas próprias respostas. Não dizem eles que só aceitam as
coisas quando as conseguem provar?
– Ah! Entendi: a prova é a resposta que
eles próprios conseguiram! Mas então que farias Tu? Já alguma vez Te sentiste
num beco destes?
– Estou num beco desses sempre que um dos
Meus amigos lá se encontra.
– Eu sei, Mestre. Mas quero dizer: também
assim encravado, assim impotente, assim frustrado?
– Que te ensinou a Minha Mãe?
– Que Tu passaste por tudo o que nós
passamos.
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