A
nossa gigantesca Obra ergue-se sempre à custa da destruição da Vida. É só
observar atentamente. E porquê? Porque a vida, se a deixássemos liberta, nunca
a conseguiríamos controlar. E, segundo a lógica do Pecado, nós é que somos os
deuses: tudo deve estar sob o nosso controle; se não conseguimos controlar a
Vida, temos que a imobilizar. Dentro de nós também.
28/5/96
– 8:51
Encantou-me o que o Mestre disse dos sábios
deste mundo. Eles, de facto, “só aceitam as suas próprias respostas”. Como
acontece a nível material, também a nível espiritual a Cidade cada vez mais
come apenas aquilo que ela própria produz. Que admira, pois, que o próprio
alimento de que vive a esteja matando, por envenenamento? E com aquela resposta
me deu o Mestre de novo a Sua Paz. Uma Paz larga e funda, que o mundo nunca
poderá dar.
Entendo agora melhor porque não pode o mundo
nunca dar-nos a verdadeira Paz: o que o mundo tem para oferecer são só coisas
fabricadas por si, todas frutos de aparência bela, de sabor inicialmente doce,
mas que nos corroem as entranhas depois, porque na sua essência eram veneno.
Que pode destilar a soberba, senão veneno? Que pode produzir o orgulho, senão
amargura? Que pode produzir a árvore que se desenraizou do seu solo natural e
se transplantou para o laboratório, senão frutos corruptos? É certo que para
encobrir a semente da corrupção os sábios deste mundo lhe conseguem pôr à volta
uma carne saborosa e dar-lhe por fora uma aparência bela. Eles foram espreitar
à Natureza com os seus microscópios e conseguiram determinar os genes do sabor
e da aparência. Então levaram-nos para os seus laboratórios e alimentaram-nos
desmesuradamente para encantarem, no produto final, os sentidos do homem,
depois de tudo terem feito para reduzirem o homem a sentidos. Mas destruíram
assim a harmonia do fruto que encontraram na Natureza. E o homem, ao comê-lo,
come a própria desarmonia, origem da decomposição e da morte. Entretanto os
sábios continuam fazendo espectaculares anúncios na sua televisão, proclamando
que, por suas mãos, suplantaram a própria Natureza! Fazem os sábios isto não só
na maçã, mas também no amor: isolaram-lhe os genes do sabor e da aparência e
reduziram-no a sentidos. É evidente que, assim, o amor é, no mundo, a maior
fábrica de sofrimento.
Começou este processo destruidor com Adão.
Desde o início, desde que o homem foi criado, Deus lhe deixou muito claro que a
destruição da Ordem em que ele surgira provocaria a sua morte: “Podes comer do
fruto de todas as árvores do jardim, mas não comas o da árvore da ciência do
bem e do mal porque, no dia em que o comeres, morrerás” (Gn 2, 16-17). Saber o
que é bem e o que é mal, determinar a Ordem em que todas as criaturas viveriam
felizes, isso só a Deus pertenceria. Mas o homem escolheu determinar, ele
próprio, o que é bem e o que é mal, como sabemos, levando para o seu
laboratório a criatura de Deus, alterando-lhe as medidas e as proporções. Mas
isto não o fez sem grande esforço. Laboratório significa,
literalmente,”trabalhatório”. O homem precisa de “trabalhar” as criaturas de
Deus para as reestruturar à sua maneira. O anátema “Comerás o pão com o suor do
teu rosto” (Gn 3, 19) não é um castigo de Deus: é só uma consequência da opção
que o homem fez ao ceder à tentação da Serpente. Assim quis o homem – assim se
deveria fazer, inteiramente segundo a sua vontade: Deus não teria criado o
homem inteiramente livre, se não deixasse chegar às últimas consequências o Dom
da Liberdade com que dotara a criatura maior entre todas as que formara.
Mas nem por um momento este Deus Se
comprazeu na vingança que para Ele poderia representar todo o sofrimento que o
homem assim sobre si próprio amontoou. De Coração dilacerado, um momento “Se
arrependeu de ter criado o homem sobre a terra”, não porque tivesse considerado
mal o que fez, não por raiva do homem, porque com um sopro poderia fazer
regressar tudo ao nada, mas por pura compaixão de ver assim sofrendo a Sua
criatura entre todas amada: “O Seu coração sofreu amargamente” – assim está o
Senhor, antes da desesperada tentativa de lavar, pelo dilúvio, a maldade da
face da terra. Tentativa que não resultou. Então só Lhe aparecia no Coração o
próprio Filho pregado numa Cruz. Pobre Deus!
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