Várias vezes disse a Jesus que estou pronto.
E outras tantas ele me mostrou que não estava pronto. Depois entendi: só Ele
sabe quando estamos prontos, porque só ele conhece em toda a sua amplitude a
missão que nos está entregando…
19/6/95 – 5:21
– Vamos, Jesus? Estou pronto. Toma a minha mão ou caminha à minha
frente, que eu vou-Te seguindo. Tu sabes da minha fome e sede da Tua Riqueza. E
tanta tem sido ela, que nem tempo tenho tido para a contemplar e dela gozar em
paz. E aqui estou de novo esta noite, pronto para a caminhada, enquanto o sol
não abrasa as areias. Fala-Me de Ti, dos Teus Desejos, das Tuas Mágoas, dos
Teus Sonhos. Mesmo que todos Te abandonem, eu não vou arredar pé da Tua beira.
Não, não me digas o mesmo que ao Pedro, não me deixes negar-Te nunca. Fala-me
da Tua Igreja, desabafa comigo, deita tudo cá para fora, eu ouço, demora o
tempo que quiseres. Não Te peço que me reveles os Teus Planos; só quero que me
robusteças o coração para que ele esteja preparado para executar o Teu mais
leve Desejo. Deixa que eu ame a Tua Igreja como Tu amas. Sei que é pedir
demais, não é possível amar como Tu amas. Então eu digo de outra maneira:
dá-me, para com a Tua Igreja, um amor que não caiba cá dentro e arrombe as
paredes do meu coração! Não sei como diga, Jesus, mas é assim um amor desmedido
que eu queria ter à Tua Igreja. Um amor concreto. Palermice: se não for
concreto, não é amor. Quero dizer: envolve-me concretamente nas tarefas que são
necessárias para demolir, remover o entulho e depois reconstruir,
exactissimamente segundo o Plano que tens no Coração, a Tua Igreja. Que eu não
vacile, muito menos me recuse a executar qualquer tarefa que me entregues, por
mais difícil ou estranha que seja. Eu só quero que Tu sejas o Chefe! O Chefe
único e exclusivo da Tua Igreja. Que ninguém mais levante a cabeça ou a voz.
Sobretudo o Papa. Ele de maneira especial! O Papa deverá ser, para todos os
seus irmãos, o exemplo acabado de Humildade e de Fé. Nas palavras, nas
atitudes, nas obras, todos deverão reconhecê-lo totalmente dependente de Ti.
Que não seja ele que viva, mas todos reconheçam que és Tu que vives nele. Dá à
Tua Igreja um novo Pedro, assim espontâneo, assim ingénuo, assim humilde, assim
frágil e rude aos olhos do mundo para confundir todos os sábios, mas assim
inabalável na Fé, para que todos saibam que a Nova Criação se vai fundar no
Coração.
– Em verdade te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a
Minha Igreja.
É evidente que eu não queria escrever isto. Resisti, pedi ao Senhor que
fizesse a Sua Vontade, mas que… que tivesse cuidado com a minha vaidade. Foi
então que, na minha visão feita de sensações, se levantou o Demónio em forma de
monstruoso dragão roncando grotescamente, contorcendo-se, elevando o pescoço e
os urros, como que a impedir Jesus de pronunciar aquela frase. Mas Jesus
insistiu para que escrevesse e pronunciou-a de novo. O dragão afastou-se,
rendido, rosnando. Não, não tive medo nenhum: o Demónio pareceu-me ridículo.
Tenho medo é de mim. Nestas ocasiões chego a parecer-me ridículo também, um
doente infantilizado, que trata estas coisas com a displicência de uma criança
manipulando brinquedos.
– Meu Jesus, quem sou eu!? Quem sou eu, Jesus, mais que o filho de Zé
Morgado do Rossão, aqui em Leça do Balio, padre casado e divorciado, muitos
cabelos brancos e muitas rugas, ajoelhado escrevendo coisas do Céu sem nada
ver, sem nada ouvir? Quem sou eu, Jesus? Apetece-me dizer-Te: olha, já estou
por tudo!
Acredito que Jesus me acaricia,
colocando-me sobre a cabeça a Sua Mão terna e segura.
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