A
mensagem seguinte retrata um momento em que, através da indicação de um texto
bíblico (II Sam 21) onde se narra um episódio de grande violência, fui
conduzido à contemplação deste estranho impulso que nos leva a agredir, a fazer
sofrer tantas vezes até à extrema crueldade. Quem somos nós? Porque fazemos nós
isto? E porque parece Deus nada fazer?
10/3/95 – 3:42
Não sei mesmo o que
escreva…
– Escreve Tu, Jesus.
Tenho saudades da Tua Voz, que nunca ouvi, queria que de novo movesses a minha
mão para Te sentir vivo, comandando o meu ser. Tenho saudades de ser comandado
por Ti com aquela força e exaltação do princípio. Olha, Jesus, tenho saudades
do tempo que há-de vir, em que o meu coração vai estar diluído no Teu e eu
serei Vida pura palpitando vigorosa ao ritmo das pulsações do Universo,
sentindo como Dor os estragos que o Teu irmão homem vai fazendo no corpo
cósmico, amando, como só Tu consegues, esta coisa ridícula e gigantesca que é o
Homem, o Homem que assim Te faz doer tanto! Responde-me, Jesus!
Um silêncio enorme
fora e dentro do coração. Um silêncio que até me parece pura ausência na
própria escolha deste texto: nada parece ter interesse, nada parece ter vida;
só o ridículo comportamento destas coisas pequenas e perversas mesmo que tenham
“enorme estatura”, destas coisas monstruosas com “seis dedos em cada mão e em
cada pé, isto é, vinte e quatro dedos”! Deus, meu querido Deus, como podes Tu
amar isto? Como pode esta cambada merecer-Te o mais leve interesse? Porque
morres Tu por estes monstrozinhos que só se sentem grandes matando?
Noto que estou
dirigindo-me a Jesus em discurso directo…
– Deixa-me falar
assim para Ti, meu querido Jesus, mesmo que Tu não respondas. Não sei porque
motivo o fazes, mas sei que estás aí e eu respeito muito, eu gosto muito que
sejas como Tu és, mesmo que eu nada entenda, que faças o que me fazes, porque
eu sei que é sempre o melhor que me podes fazer. Deixa-Te estar aí calado, se
preferes assim. Eu gosto de Ti sempre, calado ou falando, Ternura ou
Tempestade! Tu és tudo-tudo para mim. Só gosto de Ti. Por Ti acho que morria na
Cruz, na mesma em que Tu morreste! Eu sei, eu sei, ao virar da próxima esquina
posso negar-Te, eu sou uma destas coisas minúsculas e frágeis que muito fala,
muito promete, mas é tão monstrozinho como os outros que por aqui circulam
atarefados e desnorteados construindo a sua Cidade, tão ridícula, mas que tanta
dor lhes traz! És tão querido, Jesus, por gostares assim de nós! Ninguém pode
entender isto! Olha: que me quiseste dizer com o texto de hoje? Só fala de
mortes e vinganças, vinganças gratuitas que para nada serviram senão para… para
quê, meu Deus? Que ganharam os gabaonitas com o enforcamento dos sete filhos de
Saul!? Que fome é esta que existe no nosso coração? Porque lhos entregou David,
o Teu ungido, o Teu santo rei? Que sentido de justiça é este, que se exerce
matando criaturas Tuas, fazendo doer, doer, doer corpos e almas que Tu sonhaste
perfeitas Imagens Tuas? Como Tu nos amas, meu Deus! Porque fazes isto? Somos
tão pequeninos que, se nos pusesses na palma da Tua Mão, nós todos, os cinco
biliões que existem na terra, demoraríamos todo o tempo da vida da terra a
percorrê-la, sim, a palma da Tua Mão, a Tua gigantesca Mão de Criador que há-de
fazer um esforço tremendo para não nos esmagar fechando-se! E no entanto eu sei
que desta pequenez e perversidade Tu podes fazer filhos Teus! Do Teu tamanho!!!
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