A
Ciência invadiu ultimamente todos os campos da vida humana, desde o mais opaco
e agarrável, até ao mais etéreo e invisível, tentando obsessivamente tornar
tudo objectivável, demonstrável, controlável. É notória nos homens de ciência
uma sôfrega tendência para fazerem das suas descobertas, obviamente todas
científicas, a Referência universal da Verdade. Todos aqueles, pois, que se
deixam conduzir por critérios, por uma verdade que não seja a sua, são olhados
com desconfiança, se não mesmo desacreditados. A Ressurreição de Jesus, por
exemplo, segundo eles, é claro que não aconteceu.
Olha, Mestre: estava-me agora no espírito,
como Tu sabes, o fenómeno da Tua Ressurreição. A questão era esta: o Teu Corpo
físico, aquele Cadáver que José de Arimateia desceu da cruz e sepultou… foi
esse mesmo Corpo material que virou Corpo espiritual, glorioso, o Corpo que aparecia
aos apóstolos “estando as portas fechadas”, que revestiu a figura de jardineiro
para falar com as santas mulheres, que se materializou para aparecer aos
discípulos de Emaús, que exibiu mesmo as Chagas da crucifixão perante os olhos
incrédulos do Tomé e de todos os outros? Não Te peço que me respondas, Jesus.
Se eu estiver a ir longe demais, bloqueia-me o caminho, que eu não me importo.
Quero é ser humilde e ir só onde Tu queres que eu vá. Mas se for da Tua Vontade
que eu proclame a Tua Ressurreição como
ela aconteceu em verdade, aqui tens a minha caneta, a minha mão, o meu
corpo inteiro. Serve-Te dele.
– Anuncia, Salomão. Anuncia a Minha
Ressurreição como ela aconteceu, para que mais uma vez os sábios deste mundo
sejam confundidos nas suas construções de areia e de fumo. Anuncia a Minha
Ressurreição tal qual ela aconteceu e que os homens não sejam incrédulos, mas
fiéis!
– Jesus, vem então, e que nem uma pintinha
de um i eu escreva de minha lavra. Como sabes, eu tenho muito medo de Te trair,
nem que seja com uma pintinha de um i. Retira para longe daqui o Tentador.
– Não é mais importante este Mistério que
todos os outros. Não há Mistérios importantes e outros menos importantes. Só
há, no fundo, um Mistério: Deus. É este único Mistério que desde o princípio se
vos vem revelando como Amor. Quem O aceita, participa d’Ele. O Amor morreu e
ressuscitou como havia dito e ficou escrito nos Evangelhos. E em todos os
corações que acreditaram. Porque duvidais do Meu Evangelho?
– Duvidamos de tudo o que não conseguimos
enquadrar na construção que fazemos a partir de nós.
– Mas é a partir de Mim que deveis ser reconstruídos. Acreditai em Mim!
Não há nada que Eu não possa fazer! Não há corpo material que eu não possa
transformar e espiritualizar, se for da Minha Vontade! Eu sou omnipotente!
Acreditai em Mim!
– Jesus, porque está irada assim a Tua Face
e a Tua Voz?
– Porque estou cansado do vosso Pecado!
– Então cura-nos, Jesus! É tão difícil
entender porque é que Tu, sabendo-nos assim tão frágeis, sabendo que sem Ti
nada podemos fazer, não acabas com a nossa Dor e com a Tua num segundo!
– Não sabes porquê, Salomão?
– O Mistério do Teu Amor é tão enorme! Olha:
anteontem disse às alunas do 12º ano que o mar de Dor que assola o mundo é a
maior prova do Teu Amor.
– E é, Salomão, e é! Anuncia ao mundo
porquê.
– Porque a nossa Dor está sempre gritando
que nos criaste livres!
– Livres, Salomão! Livres! Sem a Liberdade
que vos dei nunca poderíeis amar! Eu criei-vos com o poder de amar! Eu
criei-vos para viverdes em total união Comigo, que sou o Amor! Não entendeis?
Não entendeis?
– Não, Jesus, não entendemos! Repara nesta
miséria em que nos tornámos e tem pena de nós. Se quiseres podes curar-nos
desta tão negra cegueira do nosso entendimento. Olha, já Te pedi várias vezes:
Tu podes tudo; tu vais conseguir inventar uma maneira de nos abrir os olhos sem
nos violentares a Liberdade, este Teu incrível Dom! Vai, desta vez, até ao
limite, mesmo até ao limite a partir do qual nos violentarias! Só Tu conheces
esse limite. Talvez pregando-nos dois estalos valentes. Talvez fazendo do Teu
Amor um imenso, grandioso espectáculo; quem quiser que não olhe, quem quiser
que não assista! Tu consegues, Jesus! Tu, sob o olhar do Pai, pela força do Teu
Espírito, conseguirás, se quiseres, curar duma assentada toda a nossa geração,
toda a nossa Era! Faz, desta vez, o Grande Espectáculo da Graça. Um Espectáculo
que ponha todos os corações rendidos ao Teu Amor!
– Eu te abençoo, Salomão. Sim, Eu virei como
Amor. E será grande o Meu Dia!
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