Jesus, desde que em criança d’Ele ouvi falar, foi sempre o meu Herói.
Pela Verdade que se desprendia das Suas palavras. Pela Sua Coragem. Pela Sua
Coerência. Decorei palavras Suas desde a catequese, estudei-as a fundo na
Teologia, preguei-as como padre durante doze anos. E no entanto, depois de
outros doze anos de distanciamento e de silêncio, reencontrei-O. E comecei a
falar de Conversão. Veja porquê.
10/6/95
– 10:49
Jesus é uma Pessoa: não é uma Causa ou uma
muda referência doutrinal. Jesus é, como eu, uma Pessoa: olha, fala, acaricia.
Tem expressões de alegria, de tristeza, de raiva. Tem carne e sangue e coração,
como eu. Só tem uma diferença: sabe tudo e pode tudo. Mas isto, esta diferença,
em vez de O afastar, aproxima-O mais, muito mais do que qualquer outra pessoa,
da nossa humanidade, do nosso braço frágil, do nosso coração vacilante. Porque
isso, essa diferença, dá-nos justamente aquilo que em qualquer outro amigo nos
falta ou pode sempre falhar: a Segurança e a Fidelidade no Amor! Sabendo-O
seguro, perdemos o medo que há em outras amizades; sabendo-O fiel no Amor,
fazemos-Lhe as confidências que, com outros amigos, se mantêm fechadas no nosso
coração. Cria-se um à-vontade completo com um Amigo assim! Não pode haver amigo
mais próximo. E depois só apetece andar com Ele, pôr-mo-nos ao serviço d’Ele para tudo o que Ele quiser, abandonar tudo
para O seguir por tudo quanto é caminho e direcção e horizonte, estar atento ao
Seu Rosto para que ao menor sinal de tristeza a gente Lhe possa valer, nem que
seja preciso ir ao fim do mundo ou ao fundo do abismo!
Gente, Jesus é uma Pessoa! E tê-Lo
descoberto como Pessoa é uma sensação nova, única! É como ter renascido outro.
Que admira, pois, que tudo em nós – o brilho dos olhos, o timbre da voz, a
direcção dos passos, os apegos do coração – tudo seja diferente! É verdade que
os outros, os indefectíveis de todas as maiorias, passam a considerar aquele
que assim renasceu diferente… para pior: vêem logo ali sinais de
degenerescência, de loucura e passam a olhá-lo como um estorvo ou uma agressão.
Mas todas as crianças, inesperadamente, passarão a aproximar-se dele como do
jardim da sua harmonia.
Jesus-Pessoa fala connosco. E isto não é uma figura de estilo: é a mais
surpreendente descoberta da nossa vida, a mais concreta das realidades até
então desconhecidas! Levamos é bastante tempo a entender a Sua Linguagem, tão
diferente é da nossa. Mas isso não nos afasta: seduz-nos. Não estou a falar de
palavras, porque palavras Ele usa as nossas em qualquer língua ou dialecto,
porque o descobrimos poliglota sem qualquer restrição. Não, não falo de
palavras e sinais, porque Ele serve-se daquilo que temos para comunicar
connosco, sem sotaque; estou a falar do Mundo Novo que Ele nos traz, de
paisagens, de recantos, de horizontes para que a nossa linguagem não tem ainda
palavras, porque se trata de coisas nunca antes vistas ou sequer suspeitadas. E
de caminhos. Caminhos tão outros, tão estranhos, tão esquisitos, que muitas
vezes recuamos, assustados. É que se trata, sobretudo ao princípio, de caminhos
estreitos, escorregadios, pedregosos, pelo menos para nós, que nunca por lá
tínhamos passado. Mas o nosso Guia sim, Ele conhece tudo, Ele caminha ao nosso
lado com impressionante segurança. E mais: não vacila sequer, quando nós
escorregamos e Ele se dobra todo para nos levantar com aquela Mão firme e
aquele Braço forte!
Jesus é o máximo! A propósito da Sua Linguagem,
repare-se no que Ele me tem feito a mim, no que me fez ainda ontem com aquela
citação de Joel! Fala de cada forma mais estranha… Mas chega sempre onde quer,
pelos caminhos que Ele lá sabe. Só pergunta se é da nossa vontade que Ele assim
nos guie. Está sempre a perguntar se não nos sentimos violentados na nossa
liberdade. Se O não sentíssemos tão simpático, tão querido, até se tornava
chato de tanto perguntar, de tanto escrúpulo que tem com a nossa liberdade.
Apetece-nos responder-Lhe, irritados – e eu já o fiz várias vezes: Não
perguntes mais isso, já Te disse que não me violentas nunca, sossega, deixa de
Te preocupares assim com a minha liberdade, não me voltes a falar no assunto e
continua! Mas Ele não senhor: Estás bem? Não te estou a violentar? Não te estás
a sentir empurrado, manipulado? Então apetece dar um abraço tão grande a este
Chato!…
Estou a chorar, aqui no café e assoo o
nariz, para disfarçar. Só queria ter que assoar assim o nariz, para disfarçar,
numa aula, frente à televisão, depois do jantar. Creio que esse dia vai vir
ainda: Ele só quer que a gente Lhe peça, para sentir que somos nós que
queremos, que não nos está a forçar. Só Lhe conheço este medo: o de nos forçar.
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