Sempre tive uma forma empenhada de dizer as coisas. Semmper levei a
sério todas as minhas tarefas, obrigatórias ou voluntárias, sem pensar em
dinheiro.Mas Jesus um dia chamou-me mercenário! No diálogo seguinte tento
entender porquê…
22/5/95 – 2:45
A sabedoria sempre foi para mim algo de
seco, uma espécie de armazém de informações prontas a serem usadas à medida que
fossem precisas…
– Sabedoria era riqueza acumulada!?
– Isso! No fundo era isso. Quem mais sabe,
mais rico é. Diz-se por cá que a sabedoria é que distingue as pessoas cultas e
a cultura é a maior riqueza.
– Pobres ricos! Quanta miséria!
– A nossa sabedoria empobrece-nos?
– A vossa sabedoria é pobreza extrema.
– Explica, Jesus. Não deveríamos saber? Que
dizes das nossas escolas?
– As vossas escolas matam-vos a vida do
coração.
– E agora? Que faço eu então na escola?
– Ama os teus alunos.
–
Tanto queria amá-los…
– Estás com
eles um ano inteiro, dois anos inteiros e despede-los sem os conheceres… Tu és
um mercenário!
– Pois… Nunca tinha pensado nisso.
– Há tanto onde mexer, Salomão, dentro de
ti!
– Esta foi mesmo Tua, Mestre! De facto, como
é possível passar tanto tempo com as pessoas sem as amar! Querido Mestre! E
agora? Como vou amar alunos? Eu tenho que lhes ensinar Português e Latim, eu
tenho que lhes dar o programa…
– Tens que lhes meter dados lá dentro?
– Pois. E também desenvolver capacidades. O
Latim, por exemplo, além de outras coisas, cria disciplina mental.
– E a “disciplina mental”, para que serve
ela?
– Para ter ideias claras, para formular
juízos lógicos.
– Sim.
– Não dizes mais nada? Porquê? Não é bom ter
ideias claras e formular juízos lógicos?
– Só é bom o que vem de Deus.
– E o Latim veio de quem?
– Do Ministério da Educação.
– Apre, Jesus! E agora? Não devo ensinar
Latim?
– Amar os teus alunos é a única coisa
necessária: são o teu próximo.
– E o Latim, Jesus!? Diz-me o que faço
agora!
– Tens que continuar a dar aulas de Latim,
não?
– Pois tenho. Senão, de que vivo?
– Não queres viver de Mim?
– Mas o pão, Jesus, quem mo dá?
– Não é o Pai? Quando rezas o “Pai-Nosso”
não é a Ele que pedes o Pão?
– Pão com maiúscula?
– Não é muito importante o Pão?
– É, Jesus. Olha: sinto o Demónio aqui à
roda, querendo meter-se. Ele não deve gostar da conversa.
– Ele sabe que é por aqui que o seu reino
será destruído.
– Como, Jesus? Destruindo as escolas?
– As escolas são o seu baluarte, a sua
fortaleza.
– Ah! Olha, eu ando sempre a dizer aos
alunos que a escola não presta, mas que não temos outra.
– Faz tu outra.
– Não se consegue, Jesus! Como?
– Amando.
– E o Latim?
– Serve-te do Latim para amar.
– Como, Jesus? E o programa?
– Só há um programa.
– Programa, com maiúscula, não é, Jesus?
Estás-me a falar do Teu Plano, não estás?
– Sim, Salomão. Só há um Plano de aulas. Só
há um Programa para todos os homens.
– Como faço, Jesus!? A escola é um monstro!…
– Entendes agora, Salomão?
–
Entendo sim, Jesus. Mas como se faz ruir este monstro?
– Amando, Salomão, amando.
– Como se ama dando Latim, Jesus? Ainda não
me respondeste.
– Ama-Me a Mim e deixa a escola Comigo.
– Deixo
a escola Contigo?
– Não disseste que ela é um monstro?
– Mas eu tenho que lá estar. É o meu
ganha-pão!
– Ao que vós vos sujeitais para “ganhar
pão”! O Pão é um dom do Pai!
– Se eu Te entendo hoje, Jesus! Não disseste
que haveríamos todos de “comer o pão com o suor do nosso rosto”?
– Até o suor do vosso rosto, para que vos dê
o Pão, terá que ser um Dom do Pai.
– Mas a escola, Jesus? Como fica? O Latim,
como fica?
– Ama os teus alunos e deixa a escola e o
Latim comigo.
– Como os amo dando Latim?
– Amando-Me a Mim.
– Pois, meu Senhor, eu sei. Mas quando vens
ao meu coração, como Amor?
– Já lá estou.
– Jesus, Jesus! Então porque não o abrasas?
– Salomão, Salomão, Meu querido filho!
Jesus ficou assim olhando-me e foi como se
desse por terminada a aula. É a Novidade ou não é, este Mestre?
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