21/1/96 – 0:07 – 1:36
Caso verdadeiramente estranho: eu acordei, na verdade, às 0:07 e quando julguei ter demorado uns cinco a dez minutos a levantar-me, olho o relógio ao começar a escrever e vejo 1:36! Isto é, eu estive hora e meia a dormir, sem ter dado por isso! E cabe então aqui, mais do que nunca, a pergunta: se tamanho era o sono, porque acordei, uma hora apenas depois de me ter deitado? Não sei. Mas creio ter sido Vontade do Mestre que eu captasse aquela imagem: 0:07. É a perfeita imagem da Paz. Trazida por Jesus, ela é realizada em nós através do Seu Espírito. Ela é o próprio Espírito Santo vitorioso em nós.
Mas porque a não sinto ainda, enchendo todo o meu ser, sem mistura, na harmonia de todos os seres, na rota que Deus para mim tem sonhada desde toda a eternidade? É bom de ver: porque estou ainda aqui, neste mundo onde é senhor o príncipe das Trevas. É isso que mostra a segunda imagem: 1:36, a Besta tentando opor-se à própria Luz, à própria Trindade! Como não há-de o Demónio fazer em mim o que está fazendo! Apetece-me chorar, mas ele até as lágrimas me secou.
– Jesus, meu Mestre bom e sábio, vê a que estado estou reduzido, vê até onde me conduziu a Tua Mão! Tinha razão a Tua amiga santa Teresa: se é assim que tratas os Teus amigos, que admira que tenhas tão poucos! Se ao menos falasses uns momentos comigo… Que cruz é esta, Mestre, que acho tão desproporcionada em relação ao meu pecado? Que prazeres tenho eu nesta vida? Tenho o do estômago, é certo, mas também acho que é o único. E esse mesmo, quantas vezes Te pedi já que mo tirasses? Vês-me de coração agarrado a alguma coisa mais neste mundo? Vês? Se vês, diz-me aonde, a quê, para eu Te poder pedir que me desamarres. Algum prazer do espírito? Talvez a vaidade ainda? Talvez o querer tornar-me célebre à Tua custa? Sim, é possível, mas Tu sabes bem do medo que me invade sempre que penso que isso possa vir a acontecer. Deixa que fique aqui registada a oração que Te dirigi ontem: se eu quiser ser célebre, troca-me as voltas e faz com que eu seja só uma célebre seta apontando sempre o Teu Coração! Só uma seta, Jesus, uma seta luminosa em que as pessoas reparem, mas só para desviarem depois de mim os olhos na direcção que eu aponte. Não sei que possa fazer mais, meu querido Companheiro, poucas mais forças tenho do que as bastantes para Te fazer este pedido: desamarra-me do resto da Cidade a que estou ainda colado; só Tu sabes quanto é o resto e quanto estou colado e só Tu sabes a forma e o tempo de me descolar. Aqui estou, pois, nas Tuas Mãos. Não sei porque não me abrasaste ainda o coração, mas melhor do que ninguém Tu sabes que esse é o único desejo da minha vida. Olha-me para o coração, Jesus, espreita todos os recantos escuros que ainda para aqui devo ter, observa tudo com atenção: vês lá algum amor, além de Ti? Mesmo agora, mesmo ainda assim bruto como estou, vê se já não és Tu o único Amor que lá tenho.
– É, sim, é o único Amor que lá tens.
– Ah! Falaste! Então diz-me: porque não o incendiaste já?
– Porque te amo muito.
São 3:17.
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