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Se eu fizesse a Jesus a pergunta directa Devem os Teus discípulos deixar de trabalhar na Cidade?, a resposta seria certamente um olhar magoado, por eu me revelar naquela pergunta como mau discípulo. De facto, neste momento eu tenho já obrigação de conhecer suficientemente o Coração do meu Amigo para saber que no Seu Reino não há deveres. Quando eu pergunto se devo ou não devo fazer isto ou aquilo, estou a mover-me claramente num mundo de leis humanas, um mundo que está inteiramente excluído da Igreja de Jesus agora prestes a nascer.
Deveres implicam igualmente direitos e no Reino do Príncipe Jesus há apenas aqueles que amam. Quem ama não tem deveres nem direitos; tem na sua mais funda intimidade o Princípio da Vida, que a partir daí propulsiona por todo o ser a Seiva do Amor, fazendo desabrochar à superfície as vivas e variadas cores do Amor. Quem ama está sempre certo naquilo que faz. Nele só estão erradas as manchas com que o desfiguraram aqueles que não amam. Como na flor tudo está certo: o ter aquela forma, aquelas cores, aquele tempo de se abrir; erradas estão as pétalas amachucadas pela mão do homem. Se a flor falasse, não diria, com azedume, que tem o direito de conservar as pétalas intactas e que o homem tinha o dever de lhe não fazer aquela ferida; se a flor falasse, diria só que não entendeu porque lhe fizeram mal, se ela só se recorda de ter feito tudo certo.
Quem ama avança sempre indefeso para onde encontra espaço e sujeita-se a todos os imprevistos, justamente porque não conhece direitos nem deveres. Ele acha que apenas assim, sendo em cada momento aquilo que do seu interior jorra, está fazendo sempre e só o Bem. Ele sabe que nunca jorrará da sua Alma a vontade de ocupar o espaço que uma outra flor já ocupou; se não tiver espaço para abrir em nenhuma direcção para onde se volte, ficará feliz à mesma por ter feito tudo quanto com a sua energia interior conseguiu fazer. Será porventura encontrado reduzido a dois braços abraçando o caule de uma outra flor. E quem assim o encontrar há-de porventura ficar ali horas esquecidas contemplando o prodígio. Um prodígio de Amor, apenas, é claro, porque o Amor puro é Surpresa pura.
No mundo dos direitos e deveres não há surpresas, a não ser as amargas surpresas do Mal.
É preciso ouvir agora as palavras que há vinte séculos vimos repetindo: Jesus é o Cordeiro de Deus, O que tira o Pecado do mundo. Um cordeiro indefeso e inocente: não tem armas nem garras, avança ingenuamente para o meio dos lobos e fica mudo quando o ferem. É este Seu comportamento que tira o Pecado do mundo. Tirará também do mundo a consequência do Pecado: a Civilização. Como se fará isso, nem Ele sabe; apenas avança ingenuamente, sem medo.
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