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Pôr-me diante de um papel em branco, de caneta em punho, suspenso, à escuta do tumulto da minha Alma, é o meu modo mais frequente de orar. Se não escrever, mais facilmente me distraio…
Tudo o que desce ao papel é, pois, genuína oração, seja quando relato acontecimentos, seja quando dialogo, seja quando apenas contemplo, seja quando me queixo ou agradeço. Só orando posso anunciar Deus; só orando posso dar testemunho do Seu Mistério. Ficou a minha oração quase toda escrita, até hoje. Mas se agora mesmo Jesus me pedisse que suspendesse a escrita para passar a anunciá-Lo de viva voz pelas ruas do mundo, esta seria só uma maneira diferente de orar: falando às pessoas, eu deveria apenas tornar audível o Acontecimento que está ocorrendo dentro de mim, como agora o torno legível. Toda a pregação é vazia se o pregador, ao falar, não estiver orando. De facto, todo o anúncio só tem consistência se o anunciador puder testemunhar o que ele próprio vive. E que outra coisa é estar vivendo o Mistério de Deus senão estar orando?
É verdade que Jesus Se retirava muitas vezes da Sua pregação para um qualquer lugar solitário, para orar, segundo está escrito no Evangelho. Mas isso era só uma forma de descansar da oração profética na oração contemplativa. Quando Jesus Se retirava, era só para Se recolher no Seio do Pai, para, em confidência tranquila com Ele, passar de novo os olhos pelo testemunho público, muitas vezes turbulento, que antes acontecera, perante as multidões, como depois de uma batalha o general passa em revista, perante o seu rei, tudo o que por amor e fidelidade ao seu reino passara.
Anunciar é orar perante testemunhas. Testemunhar é orar em público. Foi certamente por causa da minha tartamudez que Jesus me chamou a escrever primeiro o que devo anunciar depois, de viva voz; assim Ele me poupará muitas palavras, mais tarde. Assim as pessoas poderão depois ler o que eu não vou conseguir dizer no tumulto da Batalha: bastará, nessa altura, que eu abra em silêncio estes Diálogos e aponte com o dedo, apenas, aquilo que me ficar retido na garganta, por causa da minha deficiência, ou da minha emoção. Assim, ajudadas, talvez, por um leve gesto, por uma frágil expressão, por uma muda atitude, as palavras escritas agora, na tranquilidade do Grande Silêncio, mais facilmente se tornem depois pão vivo, que todos os esfomeados possam comer com verdadeira felicidade. Mas tanto agora a escrita como depois o meu gesto mudo ou a minha palavra insegura serão a mesma oração. Se o não forem, eu estarei negando o meu Mestre, como Pedro. Nessa hora, porém, eu sei que o meu Mestre me virá levantar da infeliz queda, tornando-a feliz ao fazer dela uma oração regada de lágrimas.
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