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As contínuas referências que faço à minha aridez interior são, aos olhos dos nossos homens de ciência, a mais clara prova de que me alimento espiritualmente de uma autêntica quimera: o meu Céu falha-me exactamente porque não existe — sentenciam eles. Dura, é claro, só enquanto a minha fértil imaginação está activa; quando ela se cansa, é obvio que todo este Céu inventado desaparece também — assim explicam eles. E tem tanta lógica esta sua explicação, que eu próprio, também por formação e profissão um intelectual, às vezes dou comigo arrastado neste fluxo racional que tudo explica porque nada vê.
Entretanto também às vezes tento dar explicações. Neste caso, por exemplo, digo que a minha aridez se deve ao facto de eu viver num autêntico Deserto, onde tudo foi devastado. Mas esta minha explicação nenhum intelectual a aceita, sobretudo se eu afirmar que a terra está assim devastada porque toda ela hoje está coberta pela Civilização. Aqui perco todo o interesse para eles, até como caso curioso: eles estão convencidos de que todos os problemas sobre a terra se devem ao facto de a Civilização não cobrir ainda vastas regiões do planeta, de se encontrar ainda muita gente privada dos benefícios da Civilização. É que foi justamente a Civilização que os criou e os alimenta; sem ela, eles não existiriam sequer.
Não encontramos hoje na terra nada que não tenha sido criado pela Civilização. Até o Céu foi por ela criado, conforme a nossa Mãe me levou a escrever hoje, na vigília. É também isto que Jesus quer dizer quando afirma, em muitos Profetas antigos e actuais, que o próprio Santuário de Deus está sendo devastado. A nossa Alma é, efectivamente, o Santuário de Deus levantado na terra. É aí que se encontra, junto de nós, o Céu. É, pois, para aí que se dirige todo o exército de Satanás: é preciso fazer do Céu uma instituição igual a todas as outras instituições, que são máquinas de triturar gente.
É bem verdade que o Céu é o território mais difícil de transformar em pura instituição: é aí que se aninham os sonhos mais puros e insistentes do coração humano e os sonhos sempre foram muito difíceis de controlar, até pelo gigantesco anjo das Trevas. Por isso tem ele feito tudo quanto pode para atafulhar o nosso coração de visões deslumbrantes levantadas diante dos olhos da cara. E são hoje estupendos os seus milagres. As frustrações que eles provocam também lhe servem: contribuem eficazmente para destruir os sonhos bons, provocando pesadelos. E segreda-nos, através dos nossos sábios, que os pesadelos se evitam aperfeiçoando as instituições. Também o Céu, obviamente.
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