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Escrevo em estado de decomposição – assim me vejo, nesta fase. Mas misteriosamente amo este próprio estado a que progressivamente me venho reduzindo e de que não vejo o termo. E creio saber porque me acontece esta afeição absurda: é que Deus vai aqui comigo! E de tal maneira Se identifica com este processo de morte que, ao permanecer eu no amor a Jesus, vim dar a esta inexplicável afeição à própria Morte!
Mas eu declaro muitas vezes que sofro muito neste Caminho, que tenho receio de não aguentar, de desistir. Como é então? Amo o próprio sofrimento? Sou masoquista? Não sei. Eu não ligo nada a rótulos, a não ser por lhes ter uma profunda aversão. Os rótulos são uma das salientes características da Civilização. Os rótulos, como as casas, são uma espécie de caixotes onde ela, por comodidade derivada da sua impotência, mete as pessoas, catalogando-as como conjuntos de peças em armazém. É mais um dos processos que Satanás inventou para uniformizar, dividir, e assim mutilar as pessoas, quantas vezes até à esterilização plena.
Não há rótulos, para Deus. Não há esquizofrénicos, nem esquizofrenia. Não há masoquistas, nem masoquismo. Como não há ateus, nem ateísmo. Como não há cristãos, nem cristianismo. Há pessoas. Cada uma tão diferente e tão única que, quando a contempla, não vê mais ninguém. Se a vê doente, é sempre uma doença única, que não conhece de mais lado nenhum, que não vê em mais ninguém. Nunca lhe diz Estás esquizofrénico! És um masoquista! És um ateu! És um cristão! Só lhe pergunta: Sentes-te doente? Queres curar-te? Se o paciente responde que sim, que quer ser curado, Deus como que lhe põe diante um espelho para ele se ver a si próprio apenas e põe-Se a curá-lo de modo que ele possa acompanhar par e passo a sua própria cura. Há-de reconhecer então que mais ninguém tem uma doença igual à sua, porque vê Deus seguir processos tão estranhos, tão únicos, que verificará ser também para Deus o seu caso um caso único, diferente de todos os outros que possam existir sobre a terra. E isto há-de enchê-lo de uma inexplicável, invencível ternura por um Médico assim!
Por isso também eu não sei se sou masoquista, nem me está isso a interessar patavina. Interessa-me exclusivamente agora contemplar, com toda a atenção que posso, o trabalho que Deus está realizando em mim, para me curar completamente. E tão querido Ele é a trabalhar, tão delicado, tão terno, que eu deixo-o fazer tudo o que Ele achar bem. Por exemplo levar-me agora pelo túnel da morte.
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