“Hebreus cinco, dezanove”. Ouço assim. Não importa por que via eu recebi aquela citação; importa é que eu esteja orando.
E eu orava. Repetia mais uma vez a Jesus aquilo que Lhe digo todas as noites, no início da vigília: que me concentre na minha Alma, que lá espero encontrá-Lo, que gosto muito d’Ele, que nunca permita que eu Lhe fuja. A própria situação em que me encontro, se é sincera, é já oração. E é sincera: que sentido poderia ter eu levantar-me da cama a qualquer hora da noite, por frio e calor, ajoelhar e pôr-me de caneta suspensa sobre uma folha de papel toda disponível para receber palavras, fechado neste quarto, sem ninguém que me veja ou me ouça que sentido poderia ter tudo isto, a não ser que um Amigo me tenha conquistado o coração, a ponto de o ter deixado louco? E não é uma loucura assim a mais pura oração?
Não admira, pois, que tudo quanto se passa comigo neste tempo inicial das vigílias, por vezes longo, em que nada mais acontece senão uma teimosa secura povoada de pensamentos esvoaçantes, inúteis, Deus o tenha aproveitado integralmente para revelar os mais inesperados Tesouros. Toda a palavra que me cai no espírito em resposta a esta tão louca forma de esperar, não pode, portanto, ser outra coisa senão Palavra de Deus ouvida de forma perfeita. Perfeito, de facto, é aquilo que eu faço para corresponder ao Amor de Deus com todas as capacidades que tenho em cada momento. Vou, pois, ao local que o meu seguro e fiel ouvido captou, na certeza de que lá encontrarei um precioso tesouro.
Está assim escrito em
Hb 5,19
— Porque me fizeste isto, Jesus? O capítulo 5 da Carta aos Hebreus só tem catorze versículos! Há tanto tempo que isto não me acontecia…Julguei que já me tivesses ensinado tudo o que pretendias ensinar por este processo tão estranho e que não voltarias mais a ele…
— Não acabaste de afirmar que o teu ouvido é seguro e fiel?
— Sim… Fizeste de propósito?
— Eu faço tudo de propósito, não sabes já disso? Nada acontece na Minha união contigo que não seja especialmente escolhido para ti.
— E que me queres dizer de especial hoje?
— Que o teu ouvido é seguro e fiel.
— Ouvindo desta maneira?
— Não lhe tens chamado o ouvido da Fé?
— Sim. E…?
— E não consiste a Fé em entregar o coração àquilo que a razão não vê?
— Vejo mais e melhor sendo assim conduzido a um versículo que não está escrito?
— Não é isso claro?
— De facto, ir além do que está escrito é ampliar a Tua Mensagem…
— Já leste o último versículo do capítulo cinco?
— Já. Diz que às crianças não se lhes pode dar comida sólida, porque ainda não a suportariam, mas aos adultos sim, porque já têm “os sentidos exercitados para distinguir o bem do mal”.
— Diz-Me: não te pareceu já um mal acrescentar à Bíblia fosse o que fosse?
— Sim, foi isso que me ensinaram em jovem.
— E lembras-te de que processo usei para mudar a visão dos teus olhos?
— Foi justamente este: levar-me a passagens da Bíblia que não existiam.
— Ouviste mal?
— Nesse caso ouvi bem: captei a Tua Vontade de que a Tua Voz fosse ampliada.
— E distingues agora, neste caso, o bem do mal?
— Sim, vejo agora que considerar a Bíblia um produto acabado, é amordaçar-Te e emudecer-Te e Tu és o Deus Vivo.
— Reconheces então agora a exactidão do ouvido da Fé?
São 4:54!
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