1/4/99 – 3:08
– Mãezinha, já que eu não consigo sair daqui, vem Tu aqui onde eu estou.
– Diz onde estás, filhinho.
– Num lugar onde já nem sequer há fome nem sede.
– É então um lugar de morte!?
– O lugar parece de pura morte, mas eu não estou completamente morto, porque tenho consciência dele. Eu vivo-o! Eu vivo este estado de morte!
– E como é viver a morte?
– É ter uma fome insaciável e uma sede ardente e não ter sequer energia para sentir o que se tem. É sentir desinteresse por aquilo que nos interessa acima de tudo. É sentir-se imortal e ver-se moribundo.
– É a primeira vez que vives um estado assim?
– É. A desolação e a secura são permanentes desde que vim para o Deserto, entrecortadas apenas pela sensação da Presença do Teu Filho formando em mim um coração novo. Mas agora pareço estar a viver aquele momento em que o grão, sabendo já da espiga que vai dar, vive precisamente o caminho inverso desse milagre: o definhar, o murchar, o morrer.
– É isso o que toda a mãe sente numa gravidez, Meu filhinho.
– Ai eu acho que isto é pior, Mãe! Há-de ser pior!
– Sim? Porquê?
– Porque a mãe sente-se murchar e como que desfazer-se para dar a vida ao seu bebé, mas sabe que depois do parto volta ao normal, recuperando as energias todas; o que eu sinto é que vou desaparecer mesmo! É como se a uma mãe o bebé lhe estivesse consumindo as energias todas, até que, ao nascer, a deixasse morta.
– Está bem, filhinho. Mas olha: essa gravidez que te está levando à morte é uma gravidez desejada?
– Muito! Desde que ela aconteceu, vivo totalmente condicionado pelo ser novo que está crescendo em mim, a ponto de a maior felicidade da minha vida presente consistir justamente em dá-la toda, até à morte, ao bebé que vai nascer.
– Mas assim não vives para veres o bebé diante dos teus olhos…
– Viverei e verei muito mais do que isso: o bebé sou eu outra vez! Mas agora sou definitivo, imortal!
– Diz-Me só outra coisa, Meu pequerrucho: tu deste a tua vida por ti mesmo e por mais ninguém, não foi?
– Foi. Só por mim mesmo importa dar a vida. Mas se eu assim renascer, serei todo Luz para os outros, pelo caminho que segui, pelo amor que, agora sim, posso esbanjar por todos os corações. À imagem de Deus.
São 5:35!
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