Assinalei esta hora e de repente vi-me perdido nos meus pensamentos… Que posição tomaria eu se me pedissem que respondesse sim ou não às “grandes questões da actualidade”, por exemplo se concordo ou não com o aborto, com o preservativo, com a pena de morte, com a eutanásia, com a fecundação in vitro…? Que posição deverá tomar Pedro, o guardador do Rebanho do Senhor? Qual será a “posição oficial” da Igreja de Jesus?
E imaginava-me irritando todo o mundo, em especial os jornalistas: eu responderia sempre que não tenho posição, que não há nenhuma “posição oficial” da Igreja. Acusar-me-iam todos de deixar angustiadas as pessoas, de as abandonar à sua sorte, de tomar uma posição cobarde. Mas eu haveria de manter sempre esta mesma posição: o caminho de cada Alma é único e confidencial. A posição que em cada momento ela tomar há-de vir directamente da relação que mantiver com Jesus, seu único Mestre e único Libertador. Ninguém de fora poderá condicioná-la com a sua autoridade ou com qualquer posição “oficial”. As respostas a todas as questões são tantas quantas as pessoas que com elas se virem confrontadas. As “posições oficiais” são sempre expressão de doutrinas, que acabam por se corporizar em leis, em proposições dogmáticas.
E na Igreja de Jesus não poderá haver mais nem doutrinas, nem dogmas, nem leis!
Mas como se valerá à angústia das pessoas? Não deve a Igreja ser expressão de concreto e puro Amor? Deve. E é justamente por isso que não deve levantar uma única lei! Se o fizer, em vez de acolher cada coração que a procura, passará a apontar-lhe a lei. E a lei, que não pode ter em conta a irrepetível individualidade de cada um, tornar-se-á um ídolo abstracto e mudo, sem coração, sugando justamente a personalidade inviolável de cada Alma e fazendo dela peça desvitalizada de uma engrenagem: quando parecer que retirou dela toda a angústia, isso quer dizer apenas que a personalidade original estará completamente morta.
A Igreja de Jesus, perante qualquer dor, apenas levará, com toda a paciência que puder, cada Alma a ouvir-se a si mesma, ouvindo Jesus. A Igreja não será mais uma entidade abstracta; será feita de corações próximos. A Igreja será onde dois ou três se reunirem em Nome do seu Mestre comum. É aí, junto do seu próximo, que cada um aprenderá a ouvir a sua Alma, para nela encontrar, em cada momento, a resposta adequada ao seu problema específico. E Jesus, o Príncipe da Paz, há-de retirar do seu coração toda a angústia. Depois voltará a reunir-se com o seu irmão próximo para lhe contar como o Senhor o curou da sua chaga, lhe aliviou a sua dor, ou como lhe pediu que a suportasse por mais um tempo, para também ele participar, feito agora amor puro, na mesma dor que o seu irmão suporta, mas de que desconhece o poder redentor.
A Igreja nunca mais estará longe. Nunca mais terá posições oficiais, tão distantes do meu caso, da minha dor ou da minha alegria, enfim, do meu coração. Nem Pedro estará longe nunca, porque ninguém mais o ouvirá proferir uma sentença que esmague a minha individualidade, que obstrua o caminho da minha Alma; ele será só o que estará mais próximo de todos os corações, porque será sempre o que mais ama e, feito um só com o Coração do Mestre, saberá manter sempre vivas as pastagens do Rebanho e saberá detectar com muita lucidez todas as tentativas de obstrução dos corações através de qualquer encapotado ídolo que ouse erguer-se na Cidade com vestes de anjo.
Não sei se é desta Sua tão querida, tão inocente Igreja que me quer falar o Mestre em
Mal 3,1-3 |
Está assim escrito:
“Eis que vou mandar o Meu Mensageiro, o qual preparará o Meu caminho diante de Mim. E imediatamente virá ao Seu templo o Senhor que vós buscais, o anjo de aliança que buscais. Ei-lo, aí vem, diz o Senhor dos exércitos. Quem poderá suportar o dia da Sua vinda? Quem poderá resistir quando Ele aparecer? Porque Ele será como o fogo do fundidor, como a barrela dos lavandeiros. Sentar-se-á para fundir e purificar a prata; purificará os filhos de Levi e os depurará como se depura o ouro e a prata, para que ofereçam ao senhor um sacrifício de justiça”.
− Quem é o Mensageiro de que fala o texto?
− Sou eu, Mestre, sou eu!
− Se és tu, não poderá ser mais viva, hoje, aquela palavra! És tu?
− Sou, Mestre. Não vejo a quem Te possas estar a referir senão a mim.
− Porquê?
− Porque foi a mim que Tu levaste àquele texto e eu estava justamente falando da preparação da Tua Vinda.
− Que dizias tu, que vejas neste texto?
− Exactamente, que Tu, o Senhor, virás ao Teu “templo” e “como o fogo do fundidor, como a barrela dos lavandeiros”, Te sentarás “para fundir e purificar (…) os filhos de Levi (…) para que ofereçam ao Senhor um sacrifício de justiça”. Aqui falas exactamente do coração da Tua Igreja, que Tu purificarás e lavarás com uma radicalidade nunca vista.
− E de que forma prepararás tu essa Minha Vinda?
− Justamente assim, anunciando agora o que Tu farás, para que os corações Te aceitem, quando vieres.
Gostei, Paz e Bem
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