Mc 6, 20 |
tornou-se a novidade que me veio da Alma. É como se toda ela se tivesse feito ouvido e essa fosse a novidade daquele momento, que está já desabrochando. Assim a Escritura, que está fora de mim, vai tornar-se o alimento solicitado pela minha fome passando para dentro de mim, transformado e assimilado segundo a necessidade da minha Alma. Eis o alimento:
“…porque Herodes temia João e, sabendo que era homem justo e santo, protegia-o; quando o ouvia, ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. Chegou, porém, o dia oportuno, quando Herodes, pelo seu aniversário, ofereceu um banquete aos grandes da corte, aos oficiais e aos principais da Galileia”.
− Mais uma vez, Mestre, o que a minha Alma ouviu parece não vir de Ti: aqueles versículos estão inseridos no relato da morte de João Baptista e parecem nele constituir elementos marginais.
− E o que é que não é marginal, naquele relato?
− A actuação de Herodíade para conseguir do rei a morte de João. E a própria morte deste, com as respectivas causas.
− Essas coisas são importantes para quem?
− São importantes em si, dentro da própria história, por oposição às coisas menos importantes, ou marginais.
− Importantes para quem e marginais para quem?
− Para toda a gente: as histórias são todas assim.
− E as pessoas também são todas iguais?
− Como?
− Se as pessoas têm que ver todas assim as histórias.
− Perguntas se não é possível haver alguém que ligue mais aos elementos secundários de uma história do que aos principais?
− Sim, se a todas as pessoas tem que interessar mais aquilo que tu chamas principal.
− Não… Parece que, de facto, numa história, cada pessoa realça um elemento diferente e algumas fixam-se mesmo em elementos considerados claramente marginais.
− Considerados marginais por quem?
− Por todos… Pela lógica das coisas…
− Mas não acabas tu de dizer que há pessoas para quem um elemento marginal se sobrepôs a todos os outros?
− É verdade.
− O que é que é então principal numa história?
− Vistas as coisas assim, não há, numa história, elementos principais nem secundários em si, uma vez que isso depende de cada pessoa que ouve a história.
− E sabes porque é assim?
− Porque a história é apenas um relato, é coisa do passado, é morta em si; as pessoas que a ouvem em cada momento, porém, estão vivas e cada uma é diferente na sua natureza, na sua fome, na sua sede, nos seus gostos.
− Uma história é apenas um alimento?
− É. Se não for comida, perde o sentido.
− E cada um só come dela o que lhe convém?
− É verdade: c´ada um recebe e assimila o que é conforme à sua natureza.
− Pode então aquela citação, que tu disseste conter apenas elementos secundários, ser para ti, em toda a história da morte de João, o alimento mais adequado?
− Pode.
− Mas aquele alimento não foste tu que o escolheste; tu só manifestaste ter fome e então foi-te apresentado aquele alimento. Como sabes que é o mais adequado?
−Só confiando inteiramente em quem mo trouxe.
− Quem to trouxe?
− Foste Tu.
− Como sabes que fui Eu?
− Levantei-me da cama para estar Contigo: é impossível que Tu deixasses alguém vir trazer-me o alimento errado.
− Descansa, por agora.
São 7:53.
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