Ficou já escrito que estes entusiasmos que nos prendem aqui e ali podem ser um Dom do nosso Deus esbanjador, se toda a nossa ânsia for encontrar o Seu Coração e nele viver: estes momentos são carinhos leves com que Ele adoça a dureza do nosso Deserto, para que ele não seja de todo insuportável.
Não sei se fazeis ideia, meus irmãos, ou se viveis esta sensação de não ter nenhum interesse por nada deste mundo e estar no entanto preso a ele com louca paixão. Não, não me estou a contradizer: a frieza de que falo e que percorre este Deserto não destrói a paixão; torna-a louca. Louca porque se apega a feridas, a cadáveres, a podridão. Ora isto são coisas que não podem despertar qualquer interesse em quem quer que seja e no entanto passam a monopolizar toda a nossa atenção. Chego a pedir ao meu Amigo aqui no Deserto que me deixe ficar aqui até que a última gota da minha vida, o último alento das minhas forças tenha desaparecido de mim e se tenha afundado na terra. A minha ânsia é que a mais pequenina célula do meu corpo se transforme em remédio derramando-se sobre a terra, um remédio tão eficaz que lhe cure as chagas todas e possa até ressuscitar os que estiverem mortos.
Também isto o meu Companheiro me levou já a escrever: não só não é inútil sonhar sonhos impossíveis, como até, pelo contrário, quanto mais impossíveis são os sonhos, mais garantida é a sua realização! No território do possível é que os nossos sonhos se desfazem todos em pó, porque o possível é o território de Satanás, cuja obsessão é levar-nos a levantar construções sobre areia para depois se fartar de rir ao vê-las cair-nos em cima. Foi assim que ele fabricou a frustração e toda a dor subsequente.
É preciso sonhar sonhos impossíveis. Se os sonharmos adormecidos no Colo da nossa Mãe do Céu, do nosso Pai do Céu, todos eles se realizarão. O nosso Pai é omnipotente e a nossa Mãe é a Rainha do próprio Céu. E, por favor, não considereis ocas estas palavras: o nosso Pai pode mesmo tudo e a nossa Mãe basta-Lhe desejar, para que logo uma legião de Anjos Lhe execute o desejo, feliz por ter sido escolhida – a nossa Mãe pode tudo quanto deseja!
O meu ser, derramado na terra, pode curá-la, sim! Esta ridícula coisa, tão trôpega e desajeitada, que isto está escrevendo neste momento, pode virar toda remédio e curar, ela só, toda a dor do mundo! Tal é o poder da minha Alma: para ela, o planeta Terra é só um grãozinho pequenino vogando no Espaço. Quando ela estiver totalmente purificada e, liberta da indescritível tacanhez da carne, estiver desabrochando no Seio do Pai, na Casa da nossa Mãe, o Universo inteiro será para ela só um brinquedo com que brincará, feliz, para todo o sempre. A nossa Alma tem um poder fulminante – disse-o Jesus – A Verdade!
São 5:47!
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