− E que queres que Eu faça dessa tensão?
− Queria, desta vez, que dela fizesses Luz para os Teus discípulos, a fim de os dotar do necessário discernimento entre o Bem e o Mal.
− Porquê? Essa tua tensão vem-te da dificuldade em discernir?
− Sim, pelo menos em grande parte: por um lado eu sei que queres que escreva, mas por outro estão todas as razões deste mundo a dizer que tão longa escrita é um absurdo, que qualquer pessoa poderia escrever mais sóbrias e substanciosas palavras. Além disso Tu sabes, Mestre, que eu nunca gostei de escrever.
− Mas tu tens escrito sempre. E neste momento, por exemplo, sei que não te apetecia nada escrever. Porque o fazes?
− Porque não me mandaste parar de escrever; antes me tens incitado, de várias maneiras, a escrever sempre.
− E mesmo assim continuam a pesar em ti os argumentos da Razão?
− Eles apresentam-se às vezes tão respeitáveis, tão justos, que me levam a vacilar e a perguntar-me, por exemplo, se não deveria procurar sempre o silêncio e o recolhimento para escrever, como nas vigílias. É que às vezes, como agora, escrevo em condições que toda a gente consideraria indignas de Ti: está a passar na televisão um programa ruidoso de entretenimento e é sem qualquer chama no coração que escrevo…
− E porque te parece que Eu poderia transformar essa tua tensão em Luz?
− Porque me faz sofrer e porque tem a ver justamente com a dificuldade em discernir os Teus caminhos.
− Podes então apontar um pouco da Luz que sentes ter-se feito já em ti neste teu sofrimento?
− Levaste-me a entender que também o amor de criança parece distraído e que o Teu lugar de predilecção é sempre onde estão as pessoas, por mais impróprio que ele possa parecer.
− Imagina que és soldado e te encontras numa situação de guerra, por exemplo. Achas possível estares unido ao Meu Coração numas circunstâncias assim?
− Parecem duas coisas inconciliáveis, de facto. É muito difícil admitir que a Tua Incarnação possa ir até Te encaixares numa máquina de guerra, sabendo que assim encaixado nela poderás ter que matar os Teus irmãos, os Teus filhos. Há-de ser uma situação muito dolorosa, a tocar as raias do insuportável, para alguém que a tenha que viver.
− Tem sempre a solução de desertar, por exemplo, ou de se fazer objector de consciência.
− Se desertasses, ou se Te tivesses feito objector de consciência perante o Teu Pai que Te pedia que Te metesses na situação concreta em que todos os homens se encontrassem, nunca a Incarnação de Deus teria acontecido.
− Como deverá fazer então o soldado Meu discípulo, mobilizado para a guerra, perante a iminência de ter que matar, às ordens de um chefe?
− Não sei.
− Não sabes? E não terás que saber, como o guardador do Meu Rebanho? Que responderás a quem te puser aquela questão?
− Responderei que não sei.
− Admites que ele mate, permanecendo no Meu amor?
− Admito.
− Não consegues decidir ao menos qual das duas decisões é mais conforme ao Amor?
− Não.
− Não? A decisão de matar às ordens de um chefe ou só como último recurso para não morrer, pode ser compatível com o amor ao seu irmão e com um amor apaixonado a Mim seu Mestre?
− Pode. Depende da dor com que ele praticar aquele acto. Pode haver maior dor em matar, do que em deixar-se morrer.
− Não proibi Eu os Meus discípulos, com toda a clareza, de matarem, seja a que pretexto for?
− Proibiste-os de matarem, sim, mas por sua iniciativa, como meio de construir a justiça. Não nos podemos no entanto esquecer de que maior do que esse Princípio é o Princípio da Incarnação: os Teus discípulos têm que estar sempre onde os seus irmãos se encontram: se o Pecado mobiliza todos indiscriminadamente para a guerra, sujeitando-os todos à dor de matar e de serem mortos, também nesta situação extrema se deverão encontrar os Teus discípulos, para que, sofrendo-a na sua carne, dela possam vir a libertar finalmente a terra.
− Faz mal então aquele que se recusa a combater, ou que se deixa morrer para não matar?
− Não sei.
− Como responderás então a quem insistir em questionar-te por se encontrar numa situação e numa dor assim?
− Responderei sempre que faça o que o seu amor apaixonado por Ti lhe ditar. A sua própria dor o há-de iluminar.
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