− Vem ajudar-me, Jesus. Diz-me: esta mágoa de me estar ausente a Voz da minha Mãe, o Encanto da minha Rainha, é testemunho que eu possa dar?
− Não sabes que grande número dos que Me invocam nem sequer A reconhecem como sua Mãe?
− Esta minha mágoa então…
− Sim, diz que sentido tem essa tua mágoa.
− É sentir em vez deles o vazio de não terem Mãe. E é também participar da grande mágoa da Mãe pelos filhos que A não reconhecem.
− A que comparei Eu já esta ausência que estás sentindo?
− À ausência da felicidade que os Teus três Apóstolos sentiram na Tua Transfiguração.
− Que sentido tem essa ausência?
− Sentirem a distância que vai daqui deste Deserto onde todos nos encontramos até à felicidade da Casa dos nossos Pais. Sentirem a distância que os separa da sua própria Imortalidade.
− Para quê?
− Para terem sede do seu verdadeiro Lar.
− E porque levei Eu só três Comigo para o Tabor?
− Para se tornarem perante os outros testemunhas do que viram.
− Mas que sentido tem a revelação aos outros através de testemunhas? Não seria mais natural e lógico que Eu os levasse a terem também eles próprios directamente aquela experiência?
− Todos vão tê-la, um dia, e é para lá que caminham, pela Fé. Mas é preciso que a sua Fé seja amparada por alguém que vá junto deles, no mesmo Deserto.
− É essa a verdadeira missão da testemunha?
− Estou vendo agora que é justamente essa: é viver a mesma situação dos seus irmãos perante os quais testemunha, revelando-lhes a felicidade de ter visto, mas sentindo por eles a mágoa de não terem o que já viram. É terem junto dos outros a sede que eles não têm ainda, de modo a contagiá-los com a ânsia de chegar.
− Em que estás a pensar agora?
− Nos três pastorinhos de Fátima.
− E que estás vendo neles?
− Eles foram justamente escolhidos para serem as Testemunhas de que estávamos falando − Testemunhas do Coração da nossa Mãe, das ânsias que nele moravam.
− E tu? Não foste tu também escolhido para seres Testemunha da tua Mãe?
− Mas eu, Mestre, eu não vi nem ouvi nada!…
− Não te tenho Eu dito tantas vezes que a visão da Fé é a mais nítida, que o ouvido da Fé é o mais seguro?
− Então também da Senhora o meu testemunho deverá ser o da Fé? Da Fé, apenas?
− Não te escolhi Eu para seres o Apóstolo da Fé? Não é a Fé de Pedro que solidificará a grande Paz sobre a qual refundarei a Minha Igreja?
− Meu Senhor! Faça-se conforme Tu queres.
− Está sendo muito duro para ti este caminho, não está?
− Pois está. Caminhar sempre nesta Escuridão cansa, Mestre, Tu sabes.
− Sei, Meu pequenino. Já não falta muito. Já não falta mesmo nada para chegarmos à Luz plena.
− Desculpa, estava esquecido de que Tu vais aqui comigo, na mesma Escuridão que eu. Tu, a própria Luz!
− Não te sentes já Luz, também tu, em todo o teu ser?
− Se o estar assim junto dos meus irmãos neste Deserto com a permanente mágoa de os não ver a eles e a mim já no nosso Lar é Luz da Tua Luz, então sim, eu sou certamente todo Luz. Eu vivo já, de facto, a felicidade de ir vendo, mas pareço reduzido à mágoa de não ter ainda o que vejo.
− Tu já tens o que vês, Meu pequenino. Ninguém já to vai tirar!
− Eu sei, meu querido Amigo. Mas custa muito não poder gozar tudo o que já tenho, em plena Luz.
− Havemos de fazer sem desvios o caminho que falta.
− O que falta é o mais difícil, não é, Mestre?
− É. Mas tu estás bem preparado: vais aguentar bem.
− Não me deixes presumir, Mestre, mas acho que vou gostar especialmente deste último troço do caminho.
− Gostar? Normalmente de feridas e de dores não se gosta muito…
− Contigo por perto, as dores hão-de desfazer-se em pura Alegria!
− Olha: já sabes agora o que é ser Testemunha da tua Mãe e da tua Rainha?
− Sim, creio que entendi o que Tu me quiseste dizer: ser testemunha é também ser mártir; a par da felicidade de ter visto, implica sempre a mágoa de ter que partilhar a cegueira dos que ainda não viram e de ter sede por aqueles que ainda a não têm. Ser Testemunha é ir sempre onde vão os meus irmãos, tendo já visto o que eles não viram, e ouvido o que eles não ouviram.
− Eu amo-te muito, Meu amigo! Recebe a Minha Paz!
São 2:58!!
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