Vale a pena viver para isto? A esta pergunta também todos hesitam e acabam por não saber justificar qualquer resposta que dêem. Eu próprio começava a descrer do sentido da vida: tudo aquilo em que me metia, terminava em fracasso. Punha-me à procura de qualquer obra concreta que tivesse feito e que apresentasse alguma consistência: não via nenhuma. Sobretudo começava a achar tremendamente desproporcionado e portanto injusto o resultado final dos meus dias sobre a terra relativamente ao sofrimento, tão fundo e permanente, que neles passei.
Até que entendi: o sentido da minha vida na terra é mesmo a morte. Só ela é capaz de tornar fecundos todos os meus dias. Tão fecundos, que o seu fruto será a Vida eterna − será a Imortalidade!
É preciso morrer. Só a morte dará sentido a todo o sofrimento. Ela é o lugar da vida para onde se dirigem todas as dores. Aí se juntam todas, com o seu potencial explosivo. A morte é como um mar para onde se dirigiram, ao longo da vida, todas as gotas, todos os regatos, todas as torrentes de sofrimento, que foi tanto, tanto!… Foi todo aquele que deixámos ver e todo aquele, muito mais vasto, que escondemos, ou que tentámos abafar. Todo se reúne na morte, como última Dor.
Esta gigantesca Dor tem o potencial de um grande mar! Dele pode surgir tanta vida, que chegue para cobrir, até ao fim da sua existência, um planeta inteiro, tão grande ou maior que a Terra! Basta que este Sofrimento traga em si o sal do mar, que o não deixe corromper. Isto é, basta que seja sempre inundado da Fé no seu poder de curar, de reconstruir a Vida!
A morte será então o alicerce de uma nova construção. Esta sim, Vida pura, sem pranto, nem dor. Sem sombra de morte! A própria vida terrena terá então a pujança de um feto que nas trevas do útero cresce e com espantosa lucidez se forma, até à hora de nascer. O sentido desta vida é mesmo abandonar este mundo, como o feto abandona o útero materno!
São 4:33!
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