9/5/97 – 1:45
– Jesus, vem ajudar-me a caminhar na Tua Paz
– Porquê? Não a encontras, a Minha Paz?
– Ela é como se fosse o berço onde eu descanso e cresço.
– Que te falta então?
– Parece que é sacudido, o berço, às vezes…
– Estás sentindo agora uma dessas sacudidelas?
– Acho que estou.
– Descreve-a.
– Vêm sobre mim vários problemas ao mesmo tempo, numa altura em que não posso resolvê-los, porque tenho o trabalho na escola. Ainda por cima um homem, de mota, veio contra a minha bicicleta, ontem, caímos os dois, tenho o corpo todo dorido… Apetece-me só ir para a cama, apetece-me nem sei o quê… Eu não devia, apesar de tudo, estar tranquilo?
– A que chamas tu tranquilidade?
– Serenidade, bem-estar, harmonia.
– Que serenidade, que tranquilidade, que harmonia poderia haver durante as horas da Minha Paixão? Em que poderia consistir a Minha serenidade quando Me davam bofetadas?
– Não sei… Talvez em suportares tudo em silêncio.
– Vês-Me suportando tudo sem um gemido?
– Não. Vejo-Te gemendo, gritando de dor quando Te torturavam, como toda a gente.
– Onde estava a Minha serenidade?
– Talvez em sentires-Te cumprindo a Vontade do Teu Pai que amavas muito.
– Amas-Me, Salomão?
– Amo quanto posso, Mestre. Mas os males que me acontecem não estão ligados directamente à execução da Tua Vontade.
– Não? Que andas fazendo no dia-a-dia?
– O que toda a gente faz… Trabalhando, resolvendo os problemas que aparecem.
– E trabalho e problemas surgem por vontade de quem?
– Por necessidade…não sei. Não vejo nenhuma vontade dando-me trabalho e problemas.
– Quando consideras então que estás fazendo a Minha vontade no teu dia?
– Ah! Agora já não sei… Quando escrevo? Quando rezo, apenas? Agora que perguntas, já não sei, Mestre.
– Pergunto de outra maneira: apenas estarias cumprindo inteiramente a Minha Vontade se passasses vinte e quatro horas todos os dias apenas escrevendo e orando?
– Não. Isso seria um absurdo.
– Então diz-Me: quando dormes, estás fazendo a Minha Vontade?
– Estou.
– Não é a tua vontade que estás a fazer?
– Dormir é uma necessidade do meu corpo…
– Não disseste há pouco que te apetecia ir para a cama e dormir?
– Disse.
– Porque não foste?
– Porque Te amo e quero estar Contigo assim conversando.
– Não chegava o dia para conversares Comigo?
– Não sei… Foi o Teu Getsémani que me levou a estas vigílias.
– Tiveste pena de Mim?
– Tive. Achei que estavas horrivelmente só.
– Mas foi apenas aquela noite, não?
– Não foi, não, Mestre. Senti aquela noite como as noites todas de todos os tempos e de todos os homens dormindo enquanto Tu sofres… E depois ouvi-Te dizer que devíamos vigiar e orar para não cairmos em tentação.
– Então agora responde-Me: quando vigias, que vontade estás fazendo?
– Não sei… Estou só satisfazendo um pedido Teu.
– Apenas? Sem que te interesse o que faço do tempo que Me dás?
– Não! Eu sei que com ele Tu vais curar as chagas do mundo.
– Não as poderias curar tu?
– Eu? Que chagas poderia eu curar nestas duas horas fechado neste quarto escrevendo? Nem sequer as pequenas feridas da queda de ontem eu consigo curar ou aliviar…
– E sentes-te frustrado, por isso?
– Nada. Sinto o contrário: sinto-me um remédio prodigioso curando já milhões de chagas.
– Que vontade estás fazendo nestas vigílias, Salomão?
– A minha e a Tua ao mesmo tempo: a minha vontade é fazer a Tua.
– E quando ao fim deste texto te deitares de novo, que vontade estás fazendo?
– A minha, mas acho que também a Tua.
– Como, a Minha?
– Não sei… é como se fosses Tu a deitar-me, com muito carinho, depois destas duas horas em que estive escrevendo e acreditando em Ti.
– Como?
– Acreditando inteiramente em que Tu utilizas estas duas horas para curar milhões de chagas, mesmo não vendo, não assistindo a essa cura.
– E isso dá-te serenidade?
– Dá. Muita.
– E dá-te bem-estar?
– Dá…
– Mas não Me estiveste contando o teu mal-estar?
– Pronto, Mestre, já sei onde queres chegar.
– Então diz onde quero chegar.
– À natureza da Tua Paz.
– E de que natureza é ela?
– Da mesma natureza do Amor. Estou em Paz quando sei que estou curando as chagas dos meus irmãos, justamente por ter, também eu, o corpo coberto delas.
– Que chagas são as tuas?
– Os cansaços, os problemas, as dores todas que passo neste mundo.
– Não as têm os outros todos também?
– Iguaizinhas. Maiores, quantas vezes!
– E não curam, como as tuas?
– Curam, se Tas oferecerem.
São 4:03.
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