– Por onde começo, Mestre?
– Não interessa por onde começas.
– Porquê?
– Porque o corpo que te estou modelando não tem a rigidez desse corpo de carne.
– É de luz o meu novo corpo?
– É.
– E ela pode-se materializar, a luz? É tão difícil, para nós, entender a luz…
– Porque resistes em escrever Luz com maiúscula?
– Porque estava pensando na luz criada.
– Diferente da Luz que Eu sou?
– Sim… Já não sei, Mestre. Que súbita alegria é esta, dentro de mim?
– Que estavas contemplando?
– A criação da luz.
– E porquê esse entusiasmo, sabes?
– Porque estava vendo nesse momento algo de esplendoroso, intraduzível por palavras, uma verdadeira surpresa para Vós próprios, Trindade Criadora.
– Porquê surpresa? Não conhecíamos Nós já a luz?
– Vós sois Luz e verdes diante de Vós a luz criada deve ter sido uma felicidade louca! Era uma imagem da vossa própria Essência que Vos estava diante do Olhar – “fora” de Vós!
– Foi então a luz a Nossa criatura mais perfeita?
– Tudo Vos saía perfeito do Coração através das Vossas Mãos omnipotentes. Mas a criação da luz – vou verificar – foi ao primeiro dia e o cume da Criação foi no sexto, quando surgiu o Homem.
– De que foi feito o Homem?
– De duas coisas: do “pó da terra” e do “Sopro da Vida”
– O que é o pó da terra?
– Não sei… Sempre ouvi dar-lhe o simbolismo da leveza, da insignificância…
– Que estiveste fazendo agora?
– A verificar outra vez o início da Bíblia e a pedir-Te que não me deixasses fazer nenhuma interpretação forçada.
– Que concluíste então?
– Que depois da criação da luz, Deus não criou mais nada; apenas separou (luz de trevas, água de terra) e ordenou à terra que produzisse e ao mar que se povoasse de seres vivos. Isto até ao sexto dia. O sexto dia é todo especial pela sua solenidade e pela intervenção directa de Deus ao soprar ao Homem, pelas narinas, o Sopro da Vida.
– O que é então o pó da terra?
– É, como todas as coisas, luz. Luz compactada, porventura não tanto como a matéria pura, mas muito mais que a luz pura… Não sei se estas palavras dizem alguma coisa…
– Tudo, então, é feito de luz?
– Assim parece, Mestre…
– E as trevas, de que são feitas?
– Também de luz. Tão compactada, tão…prensada, tão…pesada, que as imaginamos o contrário da luz.
– Como chamarias à morada da luz assim tão densa?
– Abismo.
– Não chamaste já ao Abismo o Nada?
– Acho que chamei, Mestre.
– Então o Nada…existe?
– Mestre, Mestre, por onde me levas? Não sei… Vejo o Nada como uma intraduzível Tensão… Que palavra posso eu aplicar?
– Deixa ficar essa, por agora, pois que havemos nós de fazer com palavras de carne senão apontar, apenas, caminhos, direcções? Não estamos nós falando do Mistério das Origens?
– Acho que estamos, Mestre.
– E o Mistério das Origens não é o próprio Deus?
– Ah!
– Diz-Me só, agora: de que foi feito o Homem?
– De luz criada e de Luz incriada – de barro e de Deus! O Homem era Luz, apenas!
São 6:10!
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