– Estou.
– Não era esta a resposta que eu ia escrever.
– E porque não Me deixas responder como Eu quero?
– Tu sabes que a minha alegria é que respondas exactamente como queres.
– Diz-Me porque ficaste agora parado, sem nada escrever.
– Porque havia uma contradição entre aquilo que Tu e eu dissemos: eu disse desejar escrever sempre as Tuas exactas palavras e Tu censuraste-me por tas não escrever conforme desejas. Fiquei aflito: podem ter então ficado aqui escritas muitas palavras que Tu não tenhas desejado!
– Escreve a Minha exacta resposta a essa questão.
– Quando isso acontece, é ainda a minha deficiência que está presente. Mas a minha Fé transforma a minha deficiência em Luz.
– Vês, Jesus? Não escrevi a Tua exacta resposta, pois não?
– Onde está a tua dúvida?
– Não sei se posso atribuir à minha Fé aquele poder: Quem tudo pode és Tu.
– Que ficou escrito no Meu Evangelho acerca da Fé?
– Que ela tem o poder de deslocar montanhas.
– Escreveste a Minha exacta resposta ou não?
– Se é assim, escrevi. Mas então foi sem atingir todo o significado do que escrevi.
– E precisas de atingir o inteiro significado do que escreves?
– Não: eu sou só caneta.
– Sem entendimento?
– Não, por certo; não me sinto nada diminuído na minha personalidade. Mas é que as Tuas palavras são abertas…
– Traduz “abertas”.
– Têm insuspeitados significados: Tu és o Verbo – a Palavra!
– Quantos significados têm as Minhas palavras?
– Quantas as pessoas que as ouçam e as guardem.
– Porque acrescentaste “e as guardem”, que inicialmente não te ocorreu?
– Porque logo vi que palavra Tua que não for guardada, não foi ouvida.
– Que acontece ao significado das Minhas palavras, se elas forem guardadas?
– Desenvolve-se, amplia-se, como uma semente.
– A mesma semente produz plantas diferentes?
– Se a mesma palavra adquire significados diferentes, conforme a pessoa que a guarda?
– Sim. Se a mesma palavra ganha em cada pessoa um significado diferente.
– De uma semente só pode vir uma planta…
– Quando duas pessoas ouviram a mesma palavra, essa palavra vai dar só uma planta nas duas?
– Não pode ser! Vai dar uma planta em cada uma!
– A mesma planta?
– Não pode ser! Cada planta está na sua pessoa e segue um caminho diferente.
– Então não colheram as duas pessoas a mesma semente ao ouvirem a mesma palavra!?
– Agora meteste-me num beco, Mestre…
– Angustia-te, o beco?
– Não. Sempre que assim fazes, fico feliz.
– Porquê?
– Porque os Teus becos são úteros donde saem novas vidas.
– Então que vida saiu deste beco?
– Eh! Tanta vida! Uma só Palavra Tua contém tantas sementes quantas as pessoas que a ouvirem e a guardarem.
– Uma só Palavra Minha são muitas sementes?
– Muitas sementes que vão dar outras tantas árvores diferentes, conforme as pessoas que as recebem!
– O que são então as Minhas exactas palavras?
– Não existem. Palavras exactas, na nossa maneira de entender a exactidão, só as pessoas podem presumir pronunciá-las. Por isso são mortas as nossas palavras: não produzem planta, nem fruto; só entulham e mancham a vida!
– Como lidará então a Igreja com esta surpresa das Minhas Palavras?
– Como o lavrador que contempla o desabrochar de todas as sementes que lançara à terra em tempo oportuno: só pode ser feliz aquele olhar.
– Não é ingovernável uma variedade assim?
– Ingovernável é a mutilação e a angústia que alastram à medida que se fazem leis e doutrinas que pretendem tornar exactas as Tuas Palavras. A Tua Igreja só tem que semear-Te e esperar a surpresa que Tu serás aos seus olhos felizes.
– Olha: porque Me perguntaste se Eu estou contente contigo?
– Porque divago muito e não Te sinto como gostaria durante longos tempos do meu dia.
– Tens guardado as Minhas Palavras?
– Acho que tenho.
– Então é só esperares tranquilo que elas germinem, não? Não sabes que tudo tem o seu tempo?
São 4:52.
Sem comentários:
Enviar um comentário