- Já é dia lá fora, Maria. Levadas as coisas com rigor, isto já nem uma vigília se pode chamar.
- E porque lhe chamas vigília?
- Numa vigília é suposto estarmos vigilantes na noite.
- E se estiveres vigilante durante o dia? Ou durante o dia não se pode estar vigilante?
- Eu tenho escrito que se deve estar vigilante sempre, independentemente de ser dia ou noite.
- Tem então a vigília na noite um significado especial!?
- Sim, julgo que tem a particularidade de estarmos vigilantes enquanto os outros dormem.
- O sono dos Apóstolos que magoou Jesus no Getsémani foi o sono do corpo?
- Não, certamente: o sono do corpo revelava que eles não sentiam nada do que o Mestre estava sentindo; foi aquele sono do coração que fez Jesus sentir-Se terrivelmente só.
- Tantas vezes ouço o teu coração gemer por caminhares entre tanta gente que dorme, completamente alheia os Tesouros que transportas e lhes queres dar!…
- É verdade! Às vezes sinto que sou o único vigilante no meio das multidões adormecidas.
- Tens no entanto notícia de que há outros também assim despertos…
- Sim, são todos os verdadeiros Profetas, e há-de haver certamente outros que no anonimato vivem esta mesma solidão. Mas nunca me encontrei com nenhum deles.
- É então verdade que este tempo de vigília em que convives com os teus Amigos do Céu e escreves não precisa de ser de noite!?
- Sim, eu até tenho a persiana fechada; nada da luz do sol lá fora penetra neste quarto.
- Sabemos que nem a luz do sol, nem todo o estrondo da Cidade têm impedido ou sequer perturbado a vigilância do teu coração. Talvez o teu problema seja outro…
- Sim, talvez o meu problema seja apelas cansaço… Tu conheces certamente muito bem, Maria, esta sensação de ninguém nos querer ouvir, de todos terem medo, ou repulsa, ou só enfado perante a Mensagem que timidamente tentamos transmitir… Estou mesmo cansado, Maria! Não há portas em todo este redondel à minha volta que se abram directamente para os corações… De tal maneira que às vezes me sento no meio desta Solidão duvidando de tudo…
- Eu não estou aqui?
- Mas não Te agarro com estas mãos… A Carne pesa tanto, Maria…
- É muito pesada, sim, Meu amor. Lembra-te de que até hoje o próprio Deus não conseguiu torná-la leve!… Ainda não foi possível a Ressurreição da Carne, Meu pequenino!…
- Eu espero, Maria, eu espero. Sei que já não falta muito…
São 9:31!
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