Meu querido estúpido! – é assim que eu ouço dizer o nosso Pai do Céu perante o filho que Lhe fugiu de Casa, sôfrego de independência. E o Pai parece descontrolado pela Sua intraduzível Dor. Querido estúpido! – diz Ele. Querido estúpido! – repete. E chora. E de forma quase imperceptível, baixando a cabeça, desalentado, novamente: Querido estúpido!
Ele bem avisara o filho: Se te vais embora aqui de Casa, vais sofrer muito. Mas o filho não O ouviu, tresloucado, guloso de independência, possuidor de uma alma maior que o Universo! Deslumbrado com o seu poder – um poder terrível, fulminante! – o filho só respondeu assim ao Pai: Se vou sofrer ou não, o problema não é Teu – teu, com minúscula! E virou costas.
Mas o Pai teve um baque de Coração: O problema é Meu, sim! – disse Ele para Consigo. – Podia ter-te seduzido com qualquer presente, podia dar-te dois estalos na cara e dizer: Não sais daqui! O teu poder é grande, mas o Meu é maior e quem manda aqui sou Eu! Lembrou-Se, no entanto, nesse preciso momento, de que, se desse ao filho uma coisa ou outra – o presente ou os dois estalos – estaria impondo-lhe o limite do Seu próprio Amor naquele momento e misteriosamente achou que estava mutilando o filho na grandeza que para ele sonhara.
Então, paralisado por este Seu Sonho que se Lhe impôs no Coração, nem sequer tentou dar ao filho o presente, muito menos os dois estalos, e deixou-o partir. E mal o filho desapareceu por trás da primeira colina, desatou num choro inconsolável. E quando se Lhe despejou o Coração todo em lágrimas, criou-se um grande silêncio. Viu então neste grande silêncio todas as asneiras do filho geradoras, em cadeia, de um horrível sofrimento. Então, de Olhos secos porque nenhuma lágrima mais tinha para chorar, o Pai fez ali mesmo uma Jura solene, tão solene que se Lhe agarrou para sempre às Raízes do Ser: Hás-de voltar, nem que para isso eu tenha que Me transformar na podridão em que tu chafurdas!
E todo o Seu Ser omnipotente tremeu de uma estranha Raiva não sabia contra quem. E foi nessa Hora que descobriu o tamanho da Sua Omnipotência: ela manifestou-se terrível, porque violentava a Sua própria Natureza para o lado do Absurdo.
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