- Os Sinais chamam-me Profeta do Altíssimo, Maria. Mas neste momento, mais uma vez, eu me sinto uma insignificância absoluta.
- Está então tudo muito bem: o Profeta é aquele que desaparece para que se veja Deus.
- Eu devo ser um coração muito difícil de converter, não sou?
- Porque dizes isso agora?
- Porque acho que não consigo ainda largar o palco: de vez em quando dou ainda comigo medindo o êxito das minhas palavras e atitudes perante grandes ajuntamentos de pessoas.
- Não admira: um Profeta é aquele que proclama publicamente a Libertação que vem de Deus.
- Mas vê que público eu tenho ouvindo-me sofregamente, conforme acho que acontecerá com todo o coração sedento de Deus!
- Há treze anos que te vês discursando perante multidões e à tua frente tens quantos?
- Assim quem me ouça sofregamente talvez só uma pessoa, talvez ninguém: os próprios dois ou três que me vão lendo confessam-se mais curiosos do que sôfregos.
- Mas tu já admitiste várias vezes chegar ao fim da tua vida assim só com esse público de um, dois ou três ouvindo-te com ar cansado, como tu!
- Pois… Vê, Maria, as perspectivas que se me abrem diante dos olhos!
- Mesmo assim, tu não vais desistir de escrever!?
- Não! Escreverei até que a minha mão consiga segurar a caneta, a não ser que outra coisa expressamente me seja dita de forma bem clara por Aquele em Nome de Quem escrevo e que sempre acreditei ser o verdadeiro Autor destes Escritos.
- Isso não significa uma declarada renúncia aos palcos?
- A nível do meu desejo, sim: não quero mesmo mais nada senão que os Tesouros aqui acumulados sejam distribuídos a todos os corações, na terra inteira, nem que seja só depois da minha morte. Mas não posso negar que é esmagador o peso desta surdez universal e deste Silêncio…
- O mesmo Silêncio em que ouviste tudo quanto aqui tens gravado?
- Num primeiro momento eu estava pensando no silêncio dos corações, mas depois senti que todos esses corações que não falam porque não ouvem se encontram também dentro da Catedral do Silêncio Vivo como sementes dispersas, ou enterradas, à espera do tempo da germinação.
- E mesmo esse Silêncio pesa?
- Pesa. A tensão do Espírito é, mesmo aqui, esmagadora.
- Não o será tanto, se advertires em que essa Catedral está cheia da Tensão da Espera de Deus e de todos quantos, a partir do Paraíso, nasceram na terra. São tantos os que esperam contigo, Salomão!…
São 8:31!!?
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