– Revela-me os cantos escuros da minha alma, Mestre. Mantém nela, puro, titânico, só o abismo criador, útero escuro de toda a Luz. Se o Demónio tiver que morar também nas escarpas do meu abismo, que esteja inteiramente dominado por Ti, arrancando do fundo, como um titã, os Teus inesperados Tesouros. Não o deixes seduzir-me com a grandeza que me deste. Põe-lhe os olhos negros sempre fixos nos Teus Gestos, nas Tuas mais imperceptíveis Expressões, para que as execute com precisão milimétrica, à velocidade da luz que explode do abismo que em mim colocaste, à imagem do Grande Abismo donde tiras as flores e as galáxias todas. Põe o Demónio em mim a trabalhar incessantemente para Ti, só para Ti, com a sua medonha energia recebida de Ti, um dia em que o criaste de matéria luminosa, espectacular de brilho e beleza. Sei que não tiras nada do que dás, meu espantoso Criador: sei, por isso, que o poder de Lúcifer, a Tua mais portentosa criatura de luz, se mantém intacto nele depois do dia negro em que optou por Te enfrentar. Mas é agora um poder negativo que decompõe e suga para o Abismo as criaturas em permanente transformação e daí as faz surgir de novo, com novo esplendor e beleza. Mas não verá mais a Luz: será para sempre um anjo do Inferno, arrancando ao misterioso bojo do Abismo onde mora, as energias cósmicas que dali dispara para irem por todo o Universo semear e sustentar a Beleza. Tem um poder enorme, Satanás. Mas a Luz, não mais a verá. Por isso, se puder, inverterá o caminho das energias que lhe saem das mãos brutas, gigantescas, para as levar a fazer-lhe companhia, nas cavernas do Abismo. Não permitas que ele me faça isso a mim, Mestre. Mantém-no sempre em mim preso aos Teus Gestos, ocupado todo o tempo com a Tua Vontade.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
663 — Revela-me os cantos escuros da minha alma, Mestre
– 8:53
Não, não tenho vontade nenhuma de sair daqui. Seduz-me morrer aqui, até ao esgotamento da última palpitação da minha vida. A sensação é a de que, se não morrer assim, serei um aborto e a minha vida resultará estéril. Mas sinto neste preciso momento que se me pode colar aqui uma sorrateira tentação.
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