– Vê, Mestre: nada vejo, nada consigo escrever…
– Mas sabes que há coisas para ver e para escrever?
– Sei, isso sei.
– Como sabes?
– Tu ensinaste-me que o Mistério de Deus não tem limite nenhum.
– Escreve a pequena oração que agora mesmo Me dirigiste.
– “Eu espero por Ti, Mestre” – era assim que eu estava dizendo.
– Porquê?
– Porque estava parado há muito tempo, sem atinar no que escrevesse.
– E quando escreves, sou Eu que venho?
– És: toda a palavra que por estas páginas espalho és Tu.
– Que fizeste agora?
– Deixei cair o meu corpo para cima da cama, cansado, impotente.
– Porquê?
– Porque Tu não vinhas, isto é, o diálogo tinha parado de novo.
– E que sentiste?
– Que tu terias pena de mim ao ver-me neste estado.
– E sentiste que eu te ajudei?
– Nem por isso… comecei a divagar…
– Escreve essa sensação fugidia que tiveste.
– Que também Tu estarias como eu e o conjunto que faríamos era o de um aleijado ajudando um paralítico!
– Também para Mim o Mistério de Deus se não abre?
– Sim… Pelo menos o meu cansaço a isso se deve.
– Se o Mistério se te abrisse, voltavam-te as energias?
– É isso que sinto: O Mistério de Deus é toda a minha energia.
– E também a Mim Me falha o Mistério de Deus?
– Também a Ti, Mestre!
– Que temos então aqui, onde caminhamos?
– Areia. E montanhas de rochedos amarelados, silenciosos…
– Mais ninguém aqui vai connosco?
– Mais ninguém, Mestre. Mas no início eu estava atribuindo este bloqueio e este cansaço ao Demónio.
– E agora, que faz ele?
– Não sei… Está tudo silencioso.
– E que fazemos nós os dois aqui?
– Estamos sentados, sem conseguirmos andar.
– Então morreremos aqui!?
– Tudo conduz a essa conclusão. Mas eu sei que não vamos morrer.
– Então não sofres com esta situação?
– Muito. Mas há uma alegria invencível em mim, não sei onde. Como se fosse uma alegria clandestina…
– Em que consiste essa alegria?
– Em saber que, estando Contigo, nunca morro, seja qual for a situação em que Tu e eu nos encontremos.
– Se continuarmos por muito mais tempo assim nesta absoluta solidão, não morremos?
– Ai isso morremos. Mas a nossa morte será só uma dolorosa passagem para a completa vitória da Vida.
– No meio da dor da morte continua então em ti essa “alegria clandestina”?
– Continua. E só a extrema fraqueza impede que ela seja euforia, louco entusiasmo.
– Dá um nome a essa alegria.
– Alma. Ela sabe que é imortal.
São 6:43.
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