– Que estás fazendo agora?
– Estava-me concentrando, a ver se Te “via”.
– Porque não disseste “a ver se Te sentia”, como inicialmente te ocorreu?
– Porque o meu desejo é ver-Te.
– Ver-Me é mais do que sentir-Me?
– É. É porque Te sinto que Te quero ver e, vendo-Te, haveria de Te sentir mais ainda.
– Portanto o teu objectivo é sentir-Me mais ainda!?
– Sim, sempre mais.
– Porquê?
– Porque toda a minha felicidade és Tu.
– E para quê?
– Para que qualquer pequeno gesto meu Te visualize.
– E para que Me queres visualizar em ti?
– Para que as pessoas Te vejam.
– Seria difícil, não? Elas sempre te haveriam de ver a ti.
– Agora bloqueaste-me, Mestre… Não sei que Te responda… A única coisa que sei é que o meu desejo é mostrar-Te.
– Olha: não andas agora tentando ver-Me?
– Sim. Anseio por uma Tua Presença mais real, sempre mais real ainda.
– Porque não Me procuras entre as pessoas? Não crês possível encontrar-Me em alguma delas, até ao seu mais pequeno gesto?
– Outra vez me bloqueaste, Mestre. Pareceu-me sentir até alguma ironia naquelas Tuas palavras… Que estás querendo dizer-me?
– Diz-Me tu antes: sentiste-te ofendido com a Minha ironia?
– Nem sei… Mas fiquei um pouco chocado: parecia que me estavas censurando por eu ter escrito que Te desejo revelar até ao meu mais pequeno gesto…
– Mas sentiste outra coisa ainda…
– Sim, fiquei surpreendido, porque aquela Tua atitude não combina nada com aquilo que eu penso de Ti…
– Que pensas de Mim?
– Que és harmonia, apenas.
– A ironia não combina com a harmonia?
– Parece que não: há naquelas Tuas palavras um ar de troça que agride. Parece uma censura indirecta e Tu nunca és indirecto. Misterioso, sim, muitas vezes, mas não indirecto.
– Tens razão. Desculpa.
Lutei quanto pude para não escrever aquela resposta de Jesus. Ela é impensável, na Bíblia. E se a visse escrita na Vassula, ficaria muito surpreendido. Jesus pedindo desculpa, admitindo que fez mal, que errou!!! Não podia escrever isto de maneira nenhuma. Mas aconteceu-me o que nestes casos sempre me acontece: desde que determinado conteúdo significativo me “caia” no espírito, por mais chocante que seja, e dentro de mim se agarra, não consigo mais calá-lo. A sensação é a de que estaria esmagando uma Palavra de Deus! E as Palavras de Deus são como seres vivos, consistentes em si mesmas. Como hei-de dizer isto? Cada Palavra é como se fosse o próprio Jesus. Então essa Palavra não mais consigo evitar que ela desça ao papel: é só dar-lhe a formulação mais precisa que eu encontrar e fatalmente ela vai ficar escrita.
– Mestre, Mestre, meu querido Amigo de todos os momentos, Tu sabes que eu não suporto magoar-Te. E sabes também que eu creio na Assistência do Teu Espírito quando gravo as Tuas palavras. Por isso diz-me: o que foi que aconteceu?
– Que tem aquela Minha fala de tão estranho?
– É completamente impensável para nós admitires que erraste e pedires desculpa.
– Não admitiste já que Me canso, que Me zango, que Me enervo, que desfaleço até à situação de completa fragilidade, de total impotência?
– Escrevi já tudo isso, é verdade. Mas isso nós até conseguimos justificá-lo: Tu zangas-Te e enervas-Te sempre por uma qualquer razão justa, Tu cansas-Te e tornas-Te impotente porque assumes toda a nossa fragilidade. Sempre, de qualquer forma, Tu permaneces justo e inocente.
– Deus zangar-Se e enervar-Se não é indigno de Deus? A impotência não é o que há de mais anti-natural a Deus?
– Sim, mas…
– Não Me vês nunca, durante a Minha vida terrena, pedindo desculpa a ninguém, nem por qualquer empurrão involuntário que lhe tenha dado?
– Isso sim, mas cá está: isso é uma ofensa involuntária…
– E que vontade existe quando dais a alguém uma resposta torta porque estais irritados?
– É difícil determinar o que, nessa situação, se pode chamar voluntário.
– Então porque Me não deixais ser homem, em tudo igual a vós?
– Menos no pecado, Mestre, menos no pecado…
– Mas partilhei convosco toda a situação criada pelo pecado. E reagi à vossa maneira, inevitável numa situação de pecado. Eu assumi inteiramente a vossa deficiência, não entendeis isso?
– Ter uma atitude descontrolada perante uma situação imprevista, sobretudo violenta – é a este tipo de deficiência que Te estás referindo?
– Estou-Me referindo a tudo quanto é deficiência em vós. Toda a deficiência resulta do pecado e Eu vim assumir inteiramente os estragos que o pecado fez em vós. Custa-Me tanto que não Me aceiteis como um de vós!…
– Então também tiveste que pedir várias vezes desculpa, como nós?
– Que admira que um deficiente caia sobre os outros e os incomode? Ora todo o homem é um deficiente e Eu sou um homem.
– “Sou”, presente?
– Eu não desincarnei nunca mais, Salomão! Diz isto, por favor, a todos os meus irmãos.
– Hei-de dizer, Mestre, até onde chegarem as minhas forças. Mas olha: eu não entendo bem… O Teu corpo de carne, aquele que percorreu as ruas de Nazaré e as estradas da Galileia até Jerusalém, esse corpo subiu ao Céu, pois subiu?
– Sim. Esse corpo ressuscitou e subiu ao Céu.
– Então…
– Então devias ter já entendido que o Meu corpo agora, tão real como aquele que subiu ao Céu, é o teu corpo e o corpo de todos aqueles com quem te cruzas.
– Ah! Por isso Te estavas irritando comigo por eu não estar entendendo o que é óbvio?
– Não é tão óbvio assim. Tens razão. Desculpa.
São 5:23!
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