O Mistério da Incarnação.
Poderia dizer que estas páginas proclamam apenas o Mistério da Incarnação, pois é nele e por ele que se nos abrem as portas de todos os outros Mistérios. Mas esta noite Jesus veio comigo até à solidão da morte, naquele estado já de decomposição em que toda a unidade se está desfazendo, em que, por isso, até os acessos ao Mistério de Deus se nos fecham todos. E só nos resta aquela misteriosa consciência de que a nossa alma é imortal e que, por isso, ultrapassará esse ponto de viragem da morte para a Vida!
Torna-se a nossa alma, então, pura Alegria.
A alegria de morrer! Parece loucura. Toda a Revelação de Deus é loucura aos olhos, aos ouvidos e às mentes do Senso Comum. Mas proclamar que a Perfeita Alegria está na desagregação do nosso ser, na morte, no limite do sofrimento, é uma Boa Nova que o Senso Comum nunca entenderá. Entendeu-a e proclamou-a, por exemplo, Francisco de Assis. E entendia-a a Igreja Primitiva, que caminhava para o martírio de coração tranquilo e feliz.
Mas não se entenda mal: o sofrimento dói sempre. Um sofrimento horrível dói horrivelmente. Não estou proclamando uma alegria balofa, não: Jesus gemeu, contorceu-Se de dor, gritou o Seu abandono. E esteve comigo esta noite, sofrendo como eu, até à revelação da “alegria clandestina” aninhada no âmago da nossa unidade perecível.
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