– 10:34
Sublinho o 4, porque me está já há dias chamando a atenção este algarismo. Manda-me anunciar. Mas não me diz o quê, nem como, nem onde, nem a quem. É como se a sua função fosse apenas, para já, manter viva em mim a perspectiva do anúncio, enchendo-a mais e mais de ânsia. Foi-me já dito que, enquanto outra ordem me não for claramente comunicada, anunciar é escrever. Vejo então aqui uma indicação para que não largue as vigílias e continue a escrever o que dentro de mim se vai passando: anunciar é revelar o coração. Como pelos frutos se conhece a árvore, estes Escritos são como frutos que vão surgindo e amadurecendo. Há-de chegar a hora de serem colhidos. Então as pessoas provarão e dirão: São amargos; quem os pode tragar? Ou, pelo contrário, ao prová-los, arregalarão os olhos, o rosto inteiro e dirão: Que maravilha! Que árvore é esta, que tais frutos dá!? Já se viu, pela amostra, que o que não admito é o meio termo. O meu maior desgosto seria que as pessoas, ao prová-lo, dissessem: Ah… Comem-se… A minha ânsia do momento é que chegue a hora da colheita e a minha esperança é que os meus frutos sejam suculentos e saborosos. A minha ânsia virá do Senhor, se for temperada pela paciência; a minha esperança será Dom do Pai, se for sendo amassada com o sofrimento. Tenho sempre medo de que ânsia e esperança sejam alimentadas pela ambição: seriam nesse caso os meus frutos bem amargos e em breve a árvore, tornada estéril, seria irremediavelmente arrancada do pomar do Senhor! Agarro neste momento a manga do meu Mestre e peço-Lhe que não deixe isto acontecer. Ele não Se chateia, mas também não me responde: continua ao meu lado caminhando devagar e em silêncio. Creio que está ardendo no desejo de que eu Lhe chegue ao Coração. Se Ele me dissesse como se faz isso rápido, eu fazia-o, fosse o que fosse. Mas é como se Ele me dissesse que tenha calma: como nas árvores, há um tempo de queda da folhagem, de desolação, de explosão ingénua e anárquica da vida e por fim um tempo de se desfazer em dom. É preciso não precipitar os ciclos da vida. E eu creio no meu Mestre: Ele é em verdade o único Mestre.
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