2/10/97 – 3:48
Porque vagueia o meu espírito por coisas que não me interessam minimamente? Não se trata sequer de problemas que me estejam preocupando: parece haver só uma recusa de alguém em deixar-me estar onde eu verdadeiramente quero estar.
É nestas ocasiões que me sinto outra vez no início da minha conversão. E invade-me uma profunda sensação de absoluta nulidade: o que tenho de meu é só este espírito incapaz de estar onde o coração deseja. E nem sequer coração tenho, porque esse deveria ser quente e sensível e está neste momento completamente desaparecido; se bate, é dentro de um qualquer invólucro gelado, porque nada sinto.
– Mãezinha, diz ao Teu Jesus que Lhe agradeço muito estes momentos…
– Como pode alguém agradecer uma coisa que lhe dói – essa situação dói-te, não dói?
– É tudo o que há de mais contrário ao que sempre quis. Mas até a dor a não sinto agora: a dor manifesta vida e eu pareço estar todo desactivado.
– E é essa situação que tu queres agradecer ao teu Mestre?
– É: vejo-a agora como um grande Dom Seu. E espero que mo conceda até ao fim dos meus dias.
– Porquê? Queres a insensibilidade até ao fim dos teus dias?
– Quero que o meu Mestre, sempre que qualquer pequenina sombra de vaidade poise no meu coração, me faça ver, como hoje, a minha absoluta nulidade, reduzindo-me àquilo que é em verdade só meu.
– E porque consideras isso um Dom?
– É um Dom enorme, Mãe: é todo o alicerce da minha grandeza.
– A tua grandeza assenta em seres nada?
– Pois assenta, Mãe! Como a Tua grandeza. Não foi sobre a Tua completa insignificância que pôde Deus fazer de Ti a Rainha do próprio Céu?
– Tu queres ser grande?
– Quero. Sempre tive sonhos megalómanos e permitiu Deus que eu tivesse sempre uma ambição do tamanho do mundo.
– E isso é bom?
– Se eu conservar todo este espaço vazio, é.
– E para que te serve um tão grande espaço vazio?
– Para nele receber nem mais nem menos do que a Plenitude de Deus!
– De teu só queres ter esse espaço vazio?
– Só. Sempre. Quero ser só esta possibilidade de Deus viver à larga em mim.
– Em que consiste então a tua personalidade?
– Em ser o que Deus quiser ser em mim.
– Então quando pedes esses momentos de vazio ao teu Mestre, estás-Lhe pedindo que Se ausente?
– Acho que estou. Mas se Ele assim fizer como Lhe peço, o próprio vazio torna-se o maior do Seus Dons.
– O vazio, o nada, podem ser Dons de Deus?
– Podem: foi do Nada que Ele tirou Tudo!
– Não estás só a fazer frases bonitas, filhinho?
– Queres dizer, vazias? Estou. Hoje nada mais consigo fazer do que coisas vazias, do que nada. Mas são verdade, aquelas frases. Pede, Mãezinha, ao Teu Filho que as encha da Sua Plenitude e elas serão pura Luz. Abençoa-me, Mãe, enquanto espero…
São 5:58!
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